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A blogofobia de José Serra
24 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda Por Leandro Fortes, na CartaCapitalA blogosfera e as redes sociais são o calcanhar de Aquiles de José Serra, e não é de agora. Na campanha eleitoral de 2010, o tucano experimentou, pela primeira vez, o gosto amargo da quebra da hegemonia da mídia que o apóia – toda a velha mídia, incluindo os jornalões, as Organizações Globo e afins. O marco zero desse processo foi a desconstrução imediata, online, da farsa da bolinha de papel na careca do tucano, naquele mesmo ano, talvez a ação mais vexatória da relação imprensa/política desde a edição do debate Collor x Lula, em 1989, pela TV Globo. Aliás, não houvesse a internet, o que restaria do episódio do “atentado” ao candidato tucano seria a versão risível e jornalisticamente degradante do ataque do rolo de fita crepe montado às pressas pelo Jornal Nacional, à custa da inesquecível performance do perito Ricardo Molina.
A repercussão desse desmonte midiático na rede mundial de computadores acendeu o sinal amarelo nas campanhas de marketing do PSDB, mas não o suficiente para se bolar uma solução competente nas hostes tucanas. Desmascarado em 2010, Serra reagiu mal, chamou os blogueiros que lhe faziam oposição de “sujos”, o que, como tudo o mais na internet, virou motivo de piada e gerou um efeito reverso. Ser “sujo” passou a ser um mérito na blogosfera em contraposição aos blogueiros “limpinhos” instalados nos conglomerados de mídia, a replicar como papagaios o discurso e as diatribes dos patrões, todos, aliás, alinhados à campanha de Serra.
Ainda em 2010, Serra tentou montar uma tropa de trolls na internet comandada pelo tucano Eduardo Graeff, ex-secretário-geral do governo Fernando Henrique Cardoso. Este exército de brucutus, organizado de forma primária na rede, foi facilmente desarticulado, primeiro, por uma reportagem de CartaCapital, depois, por uma investigação do Tijolaço.com, blog noticioso, atualmente desativado, do ministro Brizola Neto, do Trabalho.
Desde então, a única estratégia possível para José Serra foi a de desqualificar a atuação da blogosfera a partir da acusação, iniciada por alguns acólitos ainda mantidos por ele nas redações, de que os blogueiros “sujos” são financiados pelo governo do PT para injuriá-lo. Tenta, assim, generalizar para todo o movimento de blogs uma realidade de poucos, pouquíssimos blogueiros que conseguiram montar um esquema comercial minimamente viável e, é preciso que se diga, absolutamente legítimo.
Nos encontros nacionais e regionais de blogueiros dos quais participo, há pelo menos três anos, costumo dar boas risadas com a rapaziada da blogosfera que enfrenta sozinha coronéis da política e o Poder Judiciário sobre essa acusação de financiamento estatal. Como 99% dos chamados blogueiros progressistas (de esquerda, os “sujos”) se bancam pelo próprio bolso, e com muita dificuldade, essa discussão soa não somente surreal, mas intelectualmente desonesta. Isso porque nada é mais financiado por propaganda governamental e estatal do que a velha mídia nacional, esta mesma que perfila incondicionalmente com Serra e para ele produz, não raramente, óbvias reportagens manipuladas. Sem a propaganda oficial do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e da Petrobras, todos esses gigantes que se unem para defender a liberdade de imprensa e expressão nos convescotes do Instituto Millenium estariam mendigando patrocínio de açougues e padarias de bairro para sobreviver.
Como nunca conseguiu quebrar a espinha dorsal da blogosfera e é um fiasco quando atua nas redes sociais, a turma de Serra tenta emplacar, agora, a pecha de “nazista” naqueles que antes chamou de “sujo”. É uma estratégia tão primária que às vezes duvido que tenha sido bolada por adultos.
Um candidato de direita, apoiado pelos setores mais reacionários, homofóbicos, racistas e conservadores da sociedade brasileira a chamar seus opositores de nazistas. Antes fosse só uma piada de mau gosto.
Os novos defensores da censura
24 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Por Diego Pignones
Tá rolando no Facebook
uma campanha pela “não à propaganda política no Facebook”.
Primeiramente, vamos
analisar alguns fatos:
- Esta será a primeira
vez que o Facebook será utilizado de maneira maciça para angariar votos;
- Há dois anos, tal estratégia
ainda pertencia ao Orkut, ao Twitter e aos blogs de campanha;
- A internet é um meio
de comunicação;
- As redes sociais são
suportes de comunicação gratuitos aos seus usuários. Mas, lucram vendendo
espaços publicitários para anunciantes;
- Cada conta/usuário é
um veículo de comunicação, pois veicula mensagens/opiniões.
Desse modo, podemos
concluir que as redes sociais são mídia, já que vendem espaços publicitários, são
suportes de comunicação e cada conta/usuário é um veículo de comunicação.
Ou será que ainda
existem ingênuos que pensam que o Facebook é um boteco virtual criado por
Markito Zuckerberg para nos divertirmos de graça sem que ele lucre um puto
centavo?
As redes sociais são o
instrumento de comunicação mais democrático que existe, uma vez que basta que o
usuário se cadastre e comece a veicular conteúdo. Desde de que entrei no
Facebook tenho visto mensagens compartilhadas que não fazem parte de meu
ideário, credo ou gosto pessoal, mas nem por isso lancei indiretas ou agredi
textualmente a pessoa porque ela é livre pra se manifestar.
Afinal, é a liberdade
de expressão.
Compartilhar mensagens
cujo conteúdo seja o de cercear a liberdade de expressão é concordar com a
censura. Então, a esses novos defensores da censura digo:
Não adianta postarem
conteúdo a favor da liberdade de imprensa ou da liberdade de expressão, se
compartilham ou já compartilharam imagens contra a propaganda eleitoral no
Facebook.
Mas qual seria o
argumento de quem esta compartilhando a mensagem contra a propaganda
política/eleitoral no Facebook?
Propaganda indesejada.
Então, os novos defensores da
censura no Facebook nunca receberam um e-mail sobre aumento de pênis, pacotes
de viagens, sites de compras coletivas, enfim, um spam?
Também nunca receberam ligações de
uma central de telemarketing? Nunca receberam filipetas ou encartes de
supermercados em suas caixas de correspondência?
Será que fazem parte do seleto
grupo que ainda pensa que o que sustenta um jornal ou revista são os assinantes
ao invés de a publicidade?
Quanto menos falarmos de política
e enquanto existirem pessoas ‘midiotizadas’ compartilhando conteúdos que visam à
censura política, mais filhos da puta-corruptos-falcatruas são eleitos.
Mas até agora não entendi uma questão: A Europa sempre é utilizada como exemplo de povo politizado, mas o que há de errado em ser politizado no Brasil?
Diego
Pignones
Publicitário
e pesquisador em Comunicação Social.
Twitter: @diegopignones
Tumblr: http://lavalanga.tumblr.com/
Analisando a proposta do Governo para os Professores
22 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Publicado no Acerto de Contas
Na semana passada, enquanto estava viajando, o Governo apresentou uma proposta para os professores das universidades e institutos federais, que já dura mais de dois meses.
Antes de começar, é preciso falar da estranheza da demora no início de qualquer tentativa de aproximação com os professores. O Governo ficou apostando que a greve iria sumir do mapa, como se as coisas funcionassem dessa forma.
Mas vamos esquecer este fato para analisar ponto a ponto a proposta do Governo e a real situação dos professores das universidades.
A Carreira Hoje
Atualmente a carreira de professor universitário é uma das piores do Governo Federal. Não falo que é a pior porque ainda tem os técnicos-administrativos, que na média ainda conseguem ter uma carreira mais difícil.
Muita gente gosta de citar o caso do salário inicial do Professor Adjunto com Dedicação Exclusiva (eu mesmo cito porque é meu caso), mas não podemos esquecer que o Professor Adjunto já é um profissional no mais alto nível de qualificação acadêmica (com Doutorado). Em titulação não há mais o que alcançar.
Uma tabela que circulou na internet fala isso.
Se formos comparar em termos de titulação com outras categorias, deveríamos pegar o Professor que não tem mestrado ou doutorado, que é o caso de técnicos de outras carreiras e que não possuem Dedicação Exclusiva, que é também o caso de outras carreiras. Este seria o Professor Auxiliar com 40 horas.
Pois bem…um Professor com Graduação apenas, que trabalha 40 horas semanais, ganha hoje R$ 2.215,54 bruto. Se acha que é mentira, veja aqui. Isto mesmo, um Professor Universitário com graduação apenas (conheço casos como esse) ganha menos de 4 salários mínimos. O valor está um pouco divergente da tabela acima, em função dos 4% de reajuste do ano passado que só chegou agora.
Claro que podemos alegar, e eu concordo com isso, que só deveríamos ter professores com titulação, mas se é para compararmos os iguais (funcionários públicos), vamos às comparações por titulação e por oportunidades.
Já fiz um texto no Acerto de Contas, falando da enorme distorção que aconteceu entre carreiras semelhantes no Governo Federal durante o Governo Lula (ganhamos hoje menos que em 1998), à exemplo dos pesquisadores do IPEA e MCT. Basta ler o texto que irá saber do que estou falando. Um pesquisador com Doutorado no IPEA entrava ganhando R$ 300,00 a menos que um Professor com Doutorado. Hoje entra ganhando R$ 5 mil a mais.
Um professor com Doutorado, em DE, ganha hoje R$ 7.627,00 bruto. Isso com a exigência de não poder fazer absolutamente mais nada, o que é uma fantasia da Dedicação Exclusiva. E também estamos falando de um professor com Doutorado, que é a mais alta titulação passível de ser obtida. Não estamos falando de um recém-formado.
Essa “pequena” introdução foi apenas para falar de como está ruim o Salário de um Professor.
Mas vamos à proposta.
A Proposta do Governo
Desde 2008 ficou acertado com o Governo Federal uma mudança na carreira do Professor. Isso foi empurrado com a barriga para 2010, e depois para 2011, e depois para 2012, até que a greve estourou.
A proposta do Governo (e qualquer outra em debate) deve ser observado sob três ângulos: a questão salarialem si, a progressão na carreira e o interesse na melhoria da universidades (que significa uma melhoria qualitativa dos professores).
Falou-se que os professores teriam um aumento de 45%, mas isso só existe para 7% dos atuais docentes, que são titulares. O restante receberia aumentos em 10% ao ano, até 2015. Parece muito, mas se levarmos em consideração dois anos sem aumento (apenas 4% de reposição) e o nada que ganhamos durante o Governo Lula (apenas reposições), nos coloca apenas em situação semelhante ao Governo FHC.
Claro que a colocação da classe de Associado em 2008 ajudou na carreira, mas estou aqui falando do Adjunto.
A ideia original era a de equiparação ao MCT, mas isto não ocorre, já que hoje o Adjunto 1 entra ganhando R$ 10.350,68 (ver aqui) no MCT como pesquisador. Sem a necessidade de Dedicação Exclusiva. Na prática ele é pesquisador durante o dia e pode dar aulas em outra instituição à noite, ou complementar a renda como deseja.
A proposta do Governo é elevar o salário do Adjunto 1 a R$ 10.007,24, mas isto apenas em 2015. Veja que estamos falando do próximo Governo. O aumento chega após três anos.
Isso simplesmente não existe.
O titular, que ganhará (em 2015), R$ 17 mil, não pode servir de parâmetro, pois como já vimos, é minoria absoluta.
Um bom parâmetro de comparação está na matéria feita pelo UOL, mostrando que o Professor ganhará inicialmente apenas 0,85% a mais do que hoje.
A estrutura de classes basicamente não mudou. Apenas extinguiram os níveis horizontais das classes de Auxiliar e Assistente, mas isso não muda quase nada.
Além disso, o período entre as progressões manteve-se o mesmo.
Mas aí está um ponto interessante, para não dizer bizarro.
Exige-se agora que para progredir o professor tenha 12 horas semanais de sala de aula no mínimo, o que corresponde a três cadeiras. Para quem não tem pesquisa, nem participa de cargos administrativos ou de pós-graduação, este é o padrão. Mas para estes outros o padrão é de 4 horas (cargos administrativos) ou 8 horas (para quem tem pesquisa aprovada). A grande maioria dos professores das pós-graduações está neste patamar.
Pode-se achar pouco, mas é o que se pratica em todos os lugares do mundo, já que espera-se que os professores orientem alunos de mestrado e doutorado, além de exercerem outras atividades de pesquisa. Quando eu era Coordenador de Curso, normalmente ficava com uma turma adicional, mesmo tendo pesquisa, por uma necessidade interna, mas este não deve ser o padrão.
Em outras palavras, o Governo quer que o professor mais produtivo (pelo menos na teoria) trabalhe 50% a mais para progredir na carreira. Isso tudo sem nenhum aumento salarial significativo que justifique.
No fundo a única coisa que o Governo está pensando é em tapar o buraco aberto com a expansão de vagas pelo Reuni, já que a maioria dos professores ainda nem foi contratada.
Um ponto positivo está na possível progressão a Professor Titular dentro da carreira, ao invés de concurso específico. O Governo colocou uma barreira de 20%, mas acredito que isso possa ser negociado.
Outros dois pontos não vejo como negativo, apesar da chiadeira dos sindicatos, e argumento aqui.
- A centralização de critérios de promoção através de regras do MEC – atualmente as Universidades decidem suas regras, e na prática a distorção acaba reinando. Enquanto na UFPB se progride com um ofício fazendo o mínimo, na UFPE o professor segue uma via-crúcis de papelada desnecessária, que acaba prejudicando o processo. Além disso, há distorções de interpretação de legislação dentro dos próprios departamentos e Centros, fazendo com que o professor tenha não apenas mérito, mas sorte de cair em uma unidade de avaliação mais frouxa. Neste caso bastaria ao MEC regular como seriam as promoções, respeitando algumas regionalidades.
- A aceitação da percepção de recebimento através de projetos – Isso na prática já existe com as fundações, e a tentativa do MEC em regular é um avanço. Os sindicatos estão brigando contra isto, mas é apenas um dogma inútil.
Já em relação à melhoria da qualidade dos professores, obviamente não é um debate fácil. Apenas pode ser medido por critérios objetivos.
Há uma grita geral em relação à isso, e os sindicatos ainda tentam brigar com o que é razoável, que é a progrressão na carreira por mérito, e este só pode vir através da titulação e da produtividade acadêmica.
Professores mais titulados devem ganhar mais. E professores mais produtivos também precisam ser remunerados por isso através de promoções.
A proposta do Governo, na prática, não mexe com isso. O sindicato quer afrouxar e o Governo quer apertar. O resultado é apenas manter do jeito que está, que não atende aos interesses de ninguém, especialmente das universidades.
Claro que um professor que produz mais merece ascender mais facilmente na carreira. Assim como deveríamos ter aplicações de métodos desta forma para avaliação da qualidade dos compromissos assumidos com a sala de aula. Não se pode admitir professores descompromissados com a mesma percepção de carreira de profissionais comprometidos.
Muito se fala do produtivismo, e que a atividade do professor é diferenciada, mas horário de aula deve ser cumprido e assiduidade deve ser exigida do profissional. Isso é o mínimo.
Já em relação à produção acadêmica, esta realmente é mais complicada, porque a quantidade de trabalhos sem impacto gerados apenas para completar os pontinhos da Capes é imensa. Esta-se reproduzindo a figura doHomo Lattes, que chega ao final da carreira e produziu penas de textos sem relevância.
Mas isto é assunto para outra discussão.
Resumo
Em resumo, a proposta do Governo simplesmente não atende a ninguém.
Não consegue resolver o problema salarial dos professores e muito menos mexe de maneira coerente com a carreira.
Na prática estão fazendo dois movimentos: empurrando com a barriga o problema para o próximo Governo e procurando resolver o buraco deixado por Lula e Haddad com o Reuni.
Entrevista com Pedro Cardoso exibida em 2009
22 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaLeda Nagle entrevistou o ator Pedro Cardoso no programa Sem Censura, da TV Brasil, em17 de setembro de 2009. Embora já tenha alguns anos, o conteúdo da conversa entre os dois é muito pertinente e atual. Por isso resolvi publicar aqui. O vídeo postados no Youtube está dividido em quatro partes.
Na verdade, este post começou com a recente 'polêmica' no programa de Pedro Bial, no qual Pedro Cardoso defendeu seus conceitos contra os paparazzi. Fiquei interessado em ouvir mais ideias do ator, alguém a quem admiro como profissional e como pensador. Até mesmo em meu último post, Ensaio sobre o partidarismo político, chego a citar uma pequena ideia que ele coloca nesta entrevista. Assista:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Ensaio sobre o partidarismo político
20 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Todos os
partidos políticos são variantes do absolutismo, já dizia Proudhon no século
XIX. Pensamento com o qual concordo. Mas para entender o significado profundo é
preciso compreender melhor o que é absolutismo. Segundo o dicionário Priberam Online:
absolutismo
1. Sistema
de governo em que o poder do chefe é absoluto.
2. Despotismo,
tirania, autocracia.
3. Poder
absoluto e ilimitado.
Entenda-se que o partido político, ao vencer uma eleição,
ganha para si o poder de administração, não somente dos bens públicos, mas
também da regulamentação dos bens privados. Podem assim dizer que os políticos
governam para o povo e em nome da democracia, ou melhor, dentro de um sistema
democrático. Será?
Fosse assim, na história brasileira, não teríamos visto
escravidão, ou será que alguém deseja ser escravo? Fossemos democráticos, no
Rio de Janeiro, e não veríamos pacientes internados serem transferidos do Iaserj
(Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de
Janeiro), na calada da noite. Ou será que alguém o desejaria? Fossemos “do povo
e para o povo” e não assistiríamos o Núcleo para Idosos do Hospital Estadual Albert Schweitzer
– RJ - sendo fechado e deixando 1.600
senhores e senhoras sem atendimento.
Chegam a nos dizer que o Estado deve administrar a coisa
pública com mão forte, porque nem sempre o povo sabe o que é melhor pra si. E
mais, que o Estado gere e escolhe o que é melhor para todos ou pelo menos, para
a maioria. Será?
Onde está a maioria da população que decidiu deixar impune os
militares da ditadura brasileira que torturaram, mataram, estupraram, ocultaram
cadáveres, prenderam sem acusações ou processos legais? Onde está a maioria do
povo brasileiro que escolheu sucatear a saúde, a educação, a industrialização
nacional, a tecnologia tupiniquim, o saneamento e muito mais, em nome de uma
oligarquia e uma elite financeira que há séculos domina este país?
Existem ainda outras questões que me povoam a mente quando
pensamos na tal democracia brasileira. Principalmente quando chegamos numa
campanha eleitoral. Minha caixa de e-mail começa a ser povoada por textos
partidários ofendendo e denegrindo outros partidos. Qual o motivo? Desejam,
todos, governar as diferenças, em nome da democracia? Bem, se não sabem
administrar as diferenças nem em campanhas eleitorais, sem recorrer a joguetes
ridículos para competir numa eleição democrática, quão melhor se sairão para
resolver as diferenças de milhões de cidadãos, cujas vidas, direta ou
indiretamente, dependem de ações políticas?
Claro está para todo mundo que a disputa eleitoral entre
partidos é uma disputa entre modelos diferentes de governança. Está? Programa de
governo não parece ser algo claro para a maioria da população; ao menos, esta
ignorância parece ser verdadeiramente democrática. Direitos e deveres dos
cargos políticos e públicos também não parece ser algo esclarecido para a maior
parte do povo. Mais uma vez, parece que temos na ignorância de algo o nosso
elemento unificador e democrático.
A minoria do povo brasileiro, provavelmente, pode ser
chamada de militante ou ativista político ou algo que o valha. A maioria ainda
diz que futebol, política e religião não se discutem, ou seja, a omissão me
parece eminentemente democrática no Brasil.
Enquanto escrevo este texto, nossos partidos políticos
continuam bradando em nome da democracia. E para vencer na gestão de milhões de
diferentes cidadãos, estes partidos agem no sentido de arruinar seus
adversários, bombardeando as diferentes posturas de si de modo enfático. Mais uma
vez pergunto: como lidarão com as diferentes posturas quando assumirem o poder?
Bombardearão e destruirão mais uma vez? Parece-me que a aniquilação das
diferenças é algo extremamente democrático no Brasil.
Um dia, penso eu, nosso país irá amadurecer. A partir deste
momento, o povo brasileiro compreenderá que partidos políticos são variantes do
absolutismo e que desejam o poder em suas mãos.
Pedro Cardoso, numa entrevista concedida em 2009, fez uma
afirmação muito feliz, em minha opinião. O PT, no governo federal, foi o melhor
governo que já tivemos, principalmente se o compararmos aos anteriores. Mesmo
assim, o partido dos trabalhadores continua governando em nome da mesma máquina
que mantém o Brasil como exportador de matéria-prima, em franco processo de
desindustrialização, com uma educação pífia, uma saúde deficiente, um
saneamento básico muito abaixo do básico e assim por diante. Há tempos mantemos
nosso país governando para bancos e empresas transnacionais, com um governo que
financia, em grande parte, a mesma mídia oligárquica que luta contra a evolução
da nação.
Se somos a quinta economia mundial, também somos o único
país da América Latina a não punir seus ditadores que cometeram inúmeros crimes
e continuamos atrás até mesmo de países da África, neste quesito. Se seremos a
sede de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada logo em seguida, ainda temos
índices de homicídios assustadores, maiores que muitas guerras que já
aconteceram ou ainda acontecem. Por isso evoco você, cidadão, a pensar qual
democracia o partidarismo brasileiro tem sustentado e mantido?
Insisto em pensar e sonhar e lutar o quanto posso em nosso amadurecimento político e social.
Penso que um dia compreenderemos que quem faz política é o cidadão (eu e você)
e tomaremos para nós as rédeas da nossa história, seja como indivíduo, seja
como nação. É por isto que sonho e vivo. Talvez seja esta a minha utopia.