Por Diógenes Brandão
Depois da divulgação da lista com os nomes de 200 políticos que receberam da empreiteira Odebrecht, os deputados e senadores de todos os partidos, isso mesmo, de todos os partidos brasileiros estão assustados com o futuro próximo. Caso haja a delação de Marcelo Odebrecht, executivo e herdeiro da empresa com contratos em praticamente todo o país, o Brasil poderá compreender que o problema da corrupção é de fato um câncer que contaminou todos os que estão no jogo político, não cabendo por tanto o impeachment do atual governo.
A aparição de nomes como o do ministro da Educação, Aluizio Mercadante (PT-SP), o candidato a presidente do Brasil, presidente nacional do PSDB e atual senador por MG, Aécio Neves, o ex-presidente da República José Sarney, o atual presidente do Senado Renan Calheiros, o atual presidente da Câmara Eduardo Cunha e os senadores Romero Jucá e Henrique Alves, o atual governador e um ex-governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão e Sergio Cabral, mostram com clareza o poder de negociação que as empresas tem sobre a política brasileira.
Até mesmo o PSOL, que sempre se coloca como o único partido que não havia se corrompido, foi citado na lista de receptores de doação da empreiteira.
O financiamento privado de campanhas resultou nisso: Uma grande negociação entre atores políticos e empresários. Resta saber se vão continuar tentando tirar a presidente Dilma do poder, para por fim na operação Lava Jato, antes que ela encontre provas incontestáveis contra aqueles que pedem o impeachment.
O ponto negativo desta notícia que abalou Brasília foi o cinismo do juiz Sérgio Moro, antes defensor mor da tese de que tudo que seja de interesse público venha ao conhecimento da sociedade e agora resolveu por em sigilo a lista que tem 11 dos 17 "parceiros históricos" do PMDB.
Os "reveladores" e sempre detalhistas apresentadores do Jornal Nacional não leram os nomes e nem citaram os envolvidos neste escândalo, como vinham fazendo quando algo envolve o nome de Lula e Dilma.
Leia na matéria jornalística "Possível delação da Odebrecht assusta Congresso e Planalto", publicada na Folha.
O anúncio da decisão da Odebrecht de firmar um acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato foi recebido com extrema apreensão tanto no Congresso como no Palácio do Planalto. Dentro do governo e no Legislativo, políticos pregaram o "aprofundamento do caos" e um "cenário de terra arrasada" como desdobramentos para uma colaboração da empreiteira com as investigações.
O temor era justificado nos bastidores pelo fato de que a Odebrecht tinha relação com praticamente todas as forças políticas do país.
O avanço da Lava Jato foi comparado a "Robespierre", líder da Revolução Francesa que teria o objetivo de exterminar o status quo político, independentemente de coloração partidária.
Ao longo do dia, quando uma lista com o nome de mais de 200 políticos que teriam recebido recursos da empreiteira veio à público, a suspeita do alcance da Odebrecht sobre o mundo político se materializou.
Os deputados passaram a percorrer gabinetes com o documento nas mãos, checando se estavam na lista, se os adversários locais estavam, que apelidos tinham e como era reconhecidos no sistema hierárquico montado pela empreiteira.
Um dos poucos que aceitou falar sobre o assunto fora do anonimato, o deputado de oposição Raul Jungmann (PPS-PE) afirma que a anunciada delação "amplia a taxa de instabilidade política" da República.
Ele lembra que no caso do impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, a estabilidade política foi assegurado pouco depois, cenário sobre o qual não há a menor garantia de que se repita daqui em diante.
"Em eventual governo Temer, há algo que está de fora do controle da política, que é a Operação Lava Jato", afirmou. Dentro dos gabinetes a constatação era a mesma.
No governo, ministros especulavam desde a semana passada sobre a possibilidade de Marcelo odebrecht ter decidido aderir às delações. Classificavam o movimento como uma "bomba atômica". Confirmada a notícia, a avaliação é de que haveria um "aprofundamento do caos" que tomou o país.
PRESSA
O Planalto viu a colaboração da empreiteira como uma notícia ruim para a presidente Dilma, mas também para PMDB e PSDB, partidos que articulam a aprovação do pedido de impeachment da petista no Congresso.
A constatação é que a delação deve levar os articuladores do impeachment a apressar sua votação na busca de "tirar a Dilma antes que a delação do Marcelo Odebrecht se torne pública".
Em outra frente, deputados da cúpula do PMDB vaticinavam que era ilusório acreditar que a queda de Dilma poderia frear a Lava Jato e usavam metáforas para descrever o potencial de uma delação de Marcelo Odebrecht.
Diziam que o estrago maior se concentraria nas revelações sobre a campanha da petista, mas concordavam que o potencial de alcance das revelações do ex-presidente da empreiteira era maior. "Se ele falar tudo, até o Figueiredo levanta do túmulo", diziam.
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