Por Altamiro Borges, em seu blog.
Na manhã desta sexta-feira (15), quando o correntista suíço Eduardo Cunha deu início à vergonhosa sessão pelo impeachment da presidenta Dilma, os movimentos sociais foram às ruas contra o "golpe dos corruptos". Trabalhadores rurais bloquearam estradas em vários Estados; lideranças populares ocuparam ruas e praças nas capitais; teve até greve dos motoristas e cobradores de ônibus em Salvador (BA). Tudo indica que estas ações vão crescer ainda mais até domingo, data prevista para a votação na Câmara Federal. Os movimentos sociais sabem que não podem confiar nos "nobres deputados" - alvos da sedução da mídia e do balcão de negócios da quadrilha que deseja assaltar o Palácio do Planalto.
Nos últimos dias, a imprensa golpista tentou criar o clima do já ganhou, apostando no efeito manada para atrair os parlamentares vacilantes. As emissoras de tevê, principalmente a Globo, só exibem as versões favoráveis ao impeachment - o espaço para o contraditório é quase inexistente. Na internet, os sites dos impérios midiáticos apresentam gráficos com o número de deputados que votarão pelo golpe - se bobear já seriam mais de 513 parlamentares. Já nos bastidores, o traidor Michel Temer, o correntista suíço Eduardo Cunha e os caciques demotucanos montaram um balcão de negócios com promessas para os fisiológicos - inclusive de se livrarem de denúncias por corrupção.
Esta violenta pressão teve efeitos. Partidos da base governista - como o PSD de Gilberto Kassab e o PP de Ciro Nogueira - anunciaram nesta semana que fecharam questão em favor do impeachment. Antes satanizados pela imprensa, estas siglas agora são elogiadas por seus "gestos de coragem". Estas decisões, contudo, não garantem o voto golpista de todos os deputados destas legendas. "Não haverá punição para aqueles parlamentares não seguirem a orientação da sigla", já antecipou Ciro Nogueira. A própria Folha, que não esconde sua torcida pelo golpe, revela que "o entorno do ex-presidente Lula contabilizava 14 votos de deputados do PP contra o impeachment". Outros quatro estariam indecisos!
A mesma situação é vivenciada pelo PSD. Por 30 votos a 8, a bancada da sigla decidiu desembarcar do governo e votar pela destituição de Dilma. Mas não há consenso entre os deputados, conforme já alertou o ministro Gilberto Kassab. Em outras legendas menores, o cenário também é conturbado. Mesmo assim, a imprensa golpista tenta vender a imagem de que o impeachment já está aprovado e até especula sobre o futuro ministério do traidor trapalhão Michel Temer.
No outro extremo, o governo e os partidos de esquerda afirmam que já reuniram o número necessário de parlamentares para rejeitar o golpe. Fala-se em 184 deputados - quando seriam precisos 172 votos. Até a pesquisa Datafolha divulgada na semana passada concluiu que o "impeachment de Dilma não passa no plenário da Câmara". Os golpistas teriam 60% dos votos. "Considerando o total de 513 votantes, contando com o presidente Eduardo Cunha, o processo de impeachment teria 308 votos, – 34 a menos que os 342 necessários (67% da Câmara) para que o processo seja levado ao Senado". A pesquisa, porém, já foi arquivada pela própria famiglia Frias, dona do instituto e da Folha.
Diante deste quadro de incertezas, traições e manipulações, não dá mesmo para confiar no Congresso. Daí a justa decisão dos movimentos sociais de ocupar as ruas e aumentar a pressão. Quanto mais protestos ocorrerem até domingo, melhores são as chances de se evitar um duro e covarde golpe na democracia brasileira.
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