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Diógenes Brandão

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O barqueiro que deixou todo mundo a ver navios

6 de Maio de 2016, 2:28 , por AS FALAS DA PÓLIS - | No one following this article yet.
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Por Diógenes Brandão

Entre as belas ilhas gregas, havia a que abrigava uma comunidade humilde, formada basicamente de pescadores e nesta comunidade morava um barqueiro. Seu barco era o maior e melhor da ilha e nele é que os demais habitantes atravessavam para a Pólis grega, onde compravam condimentos, cereais e roupas entre outras especiarias que não produziam em seu habitat. Era com esse barco que o nosso personagem ganhava a vida. E com ele, ajudava sua comunidade a se comunicar com o resto do mundo. 

Um dia, uma tempestade atingiu a costa da ilha onde o barco estava ancorado e o destruiu. Os poucos recursos que o barqueiro havia acumulado, não o permitiam comprar um outro e construir outro levaria meses. Como ele viva sozinho e o ganho de seu trabalho nunca havia sido suficiente para contratar um ajudante ou acumular dinheiro, sabia que o tempo sem sua ferramenta de trabalho seria lancinante. 

O motivo de passar por esse aperreio? É que cobrava barato demais pelas viagens em que transportava seus vizinhos e amigos e agora que estava sem barco e sem condições de continuar trabalhando, amargaria uma adversidade atroz.

Como já esperava, o tempo em que ficou trabalhando para construir outro barco foi de enorme dificuldade. Para se alimentar, acordava mais cedo do que o habitual e sentava-se em um penhasco, de onde jogava uma linha com anzol e esperava pacientemente que um peixe beliscasse a isca.

Um dia, ao terminar de pescar um único pargo, levantou-se e seguiu pra sua choupana e lá preparou a Psarosoupa que logo mais seria seu almoço. Depois, sentou-se à beira da praia e colocou-se a cortar a árvore que seria transformada no casco da sua nova embarcação e percebeu a chegada de um dos seus clientes, um velho pescador dono da única taverna da ilha e quem há anos usava o barco do nosso protagonista para atravessar todos os dias para a cidade e lá comprava produtos para revender na ilha.

O comerciante perguntou quanto tempo ainda seria preciso para que o barqueiro construísse um barco novo e ele respondeu sem meias palavras: Antes de morrer, eu deixo este barco para a comunidade.

Obsesso e aos berros, o velho comerciante passou a revelar o prejuízo que a falta do barco causara a ele e a todos que precisavam sair da ilha e já não contavam mais com o conforto e o baixo custo oferecido pelo barqueiro sem seu barco. 

Eis que então, em um surto de ira, o barqueiro então resolve levantar-se, jogando ao mar o machadinho, a serra e o formão que usava na construção de seu novo barco, fitou o comerciante devolvendo-lhe com um berro a resposta: 

- De hoje em diante, quem quiser sair e voltar para esta ilha em um barco, terá que preparar o seu ou comprar um do outro lado, pois sou barqueiro por opção e não por obrigação ou necessidade. Minha única obrigação é contemplar o mar.

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Fonte: http://diogenesbrandao.blogspot.com/2016/05/o-barqueiro-que-deixou-todo-mundo-ver.html

Diógenes Brandão