Por Diógenes Brandão
Entre as belas ilhas gregas, havia a que abrigava uma comunidade humilde, formada basicamente de pescadores e nesta comunidade morava um barqueiro. Seu barco era o maior e melhor da ilha e nele é que os demais habitantes atravessavam para a Pólis grega, onde compravam condimentos, cereais e roupas entre outras especiarias que não produziam em seu habitat. Era com esse barco que o nosso personagem ganhava a vida. E com ele, ajudava sua comunidade a se comunicar com o resto do mundo.
Um dia, uma tempestade atingiu a costa da ilha onde o barco estava ancorado e o destruiu. Os poucos recursos que o barqueiro havia acumulado, não o permitiam comprar um outro e construir outro levaria meses. Como ele viva sozinho e o ganho de seu trabalho nunca havia sido suficiente para contratar um ajudante ou acumular dinheiro, sabia que o tempo sem sua ferramenta de trabalho seria lancinante.
O motivo de passar por esse aperreio? É que cobrava barato demais pelas viagens em que transportava seus vizinhos e amigos e agora que estava sem barco e sem condições de continuar trabalhando, amargaria uma adversidade atroz.
Como já esperava, o tempo em que ficou trabalhando para construir outro barco foi de enorme dificuldade. Para se alimentar, acordava mais cedo do que o habitual e sentava-se em um penhasco, de onde jogava uma linha com anzol e esperava pacientemente que um peixe beliscasse a isca.
Um dia, ao terminar de pescar um único pargo, levantou-se e seguiu pra sua choupana e lá preparou a Psarosoupa que logo mais seria seu almoço. Depois, sentou-se à beira da praia e colocou-se a cortar a árvore que seria transformada no casco da sua nova embarcação e percebeu a chegada de um dos seus clientes, um velho pescador dono da única taverna da ilha e quem há anos usava o barco do nosso protagonista para atravessar todos os dias para a cidade e lá comprava produtos para revender na ilha.
O comerciante perguntou quanto tempo ainda seria preciso para que o barqueiro construísse um barco novo e ele respondeu sem meias palavras: Antes de morrer, eu deixo este barco para a comunidade.
Obsesso e aos berros, o velho comerciante passou a revelar o prejuízo que a falta do barco causara a ele e a todos que precisavam sair da ilha e já não contavam mais com o conforto e o baixo custo oferecido pelo barqueiro sem seu barco.
Eis que então, em um surto de ira, o barqueiro então resolve levantar-se, jogando ao mar o machadinho, a serra e o formão que usava na construção de seu novo barco, fitou o comerciante devolvendo-lhe com um berro a resposta:
- De hoje em diante, quem quiser sair e voltar para esta ilha em um barco, terá que preparar o seu ou comprar um do outro lado, pois sou barqueiro por opção e não por obrigação ou necessidade. Minha única obrigação é contemplar o mar.
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