Muitos já escreveram sobre o depoimento de Dirceu a Moro. Vai aqui uma outra leitura que demonstra que os papeis parecem ter se invertido naquela ocasião.
Zé Dirceu deu um depoimento de mais de 2 horas ao juiz Moro.
Confesso que havia de minha parte uma grande expectativa, uma vez que estavam enfim frente a frente o inimigo público número um da Nação e o justiceiro eleito pela grande mídia e pela classe média brasileira.
Logo no começo foi possível ver um Dirceu magro, envelhecido e com certa aparência de cansaço. Seria logo engolido por Moro.
Mas para minha surpresa, Dirceu foi respondendo pausadamente e com muito preparo a todas as questões que lhe eram formuladas.
Aos poucos fui percebendo que as perguntas a ele dirigidas eram frágeis, quase simplórias.
Já tinha lido alguns despachos de Sérgio Moro que me chamaram a atenção por uma certa dificuldade em escrever em bom Português.
Alguém poderá alegar preconceito meu, uma vez que nosso idioma passa constantemente por transformações. Porém, ao contrário do comum dos brasileiros, um juiz não pode escrever mal, sob pena de ser mal interpretado em seus despachos.
Mas voltando às perguntas.
Moro à certa altura pergunta a Dirceu se ele tinha alguma divergência com relação à delação premiada de Fernando Moura que o isentou do esquema da Lava Jato ao que Dirceu responde de imediato que não. Mas é claro que não. Se ele foi isentado, como iria invalidar a delação?
Moro faz até 5 vezes as mesmas perguntas, demonstrando que, ou não se preparou direito para o embate ou realmente não tinha o que perguntar a alguém que ele certamente já sabe que não está envolvido na Lava Jato. É que a vaidade o impede de simplesmente soltar o preso o que seria ruim para sua imagem.
Ele e o promotor do Ministério Público, de voz adolescente trêmula demonstraram não conhecer o Zé Dirceu de antes de 2005, ano que estourou o Mensalão. Não conhecem sua história.
Por não conhecer sua história não conseguem compreender que alguém dê consultorias à empresas sem que elabore planilhas, tabelas, gráficos e relatórios como faria qualquer técnico médio.
Não sabiam que o trabalho de Dirceu era, aproveitando-se de seu relacionamento com políticos importantes e governos de esquerda da América Latina e Cuba, abrir oportunidades para que empresas brasileiras pudessem disputar concorrências lá fora, com consequente entrada de divisas para o país e contratação de mão de obra brasileira.
À certa altura Moro lhe pergunta se não enriqueceu com isso, ao que Zé lhe responde que seu objetivo de vida nunca foi enriquecer. Incompreensível para lacaios do capital.
O promotor foi ainda mais primário. Indagou o por quê de Dirceu ter parado de dar consultorias. Ele responde: ora, porque eu estava preso! O promotor não sabia disso?
Além disso, ao final, indagou sobre a pensão às filhas de Dirceu, coisa totalmente alheia à Lava Jato.
Moro revelou também desconhecer que Dirceu não é ministro nem deputado desde 2005.
À certa altura um dos inquiridores o chama por excelência, ao que Dirceu responde que dispensa o termo uma vez que não é mais deputado.
Dirceu foi humilde do começo ao fim. Nem ao perceber a fragilidade dos que o ouviam, mudou de comportamento.
Mas Moro sentiu que lhe escapava a capacidade de desestabilizar o homem e induzi-lo ao erro. Por isso, fez questão de demonstrar sua autoridade quando Zé Dirceu ao responder a alguém, virou-se de costas. Lembrou então ao depoente que não se vira as costas para um juiz, ao que Zé reagiu com um pedido de desculpas.
Outra pergunta que demonstra cabalmente o despreparo de Moro foi quando ele indagou a Dirceu sobre seu patrimônio em dinheiro. Este lembrou-lhe que seu sigilo bancário havia sido quebrado, o que só demonstrou o volume de dívidas que vem se acumulando mês a mês.
Ao final, quando Moro deu a palavra a Dirceu para as últimas considerações, la crème de la crème: a mídia sempre martelou que as relações entre ele e Lula estavam muito abaladas pelo fato de o ex-presidente nunca tê-lo defendido, certo? Pois Dirceu afirmou a Moro que Lula não tem qualquer envolvimento em esquemas de propinas da Petrobrás.
Quando digo que desconfio que Moro e o promotor desconhecem a história de Dirceu é porque foram surpreendidos. Esperavam entrevistar um homem destruído psicologicamente mas não esperavam que ele tivesse aquela fibra moldada em anos de treinamento de guerrilha, vida clandestina, privações de toda ordem.
E Dirceu não se utilizou disso para crescer frente a eles. Eles é que se assustaram e se apequenaram diante do mito.
Por tudo isso, a impressão que se tem foi de que Moro prestou um depoimento a Zé Dirceu.
Nesse depoimento, Moro revelou que é um juiz despreparado, não conhece História, não se aprofundou em saber qual trabalho Dirceu desempenhou em suas consultorias e nem tinha perguntas objetivas que o pudessem incriminar.
A impressão que fica é que, devido à juventude e imaturidade, Moro e o promotor do MP estiveram juntos jogando games na véspera do depoimento.
E após o depoimento, Moro deve ser condenado a libertar Zé Dirceu.
Se continuar preso será a prevalência da vaidade de Moro sobre a Justiça.
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