Davis Sena Filho, no site Brasil247.com
Há 30 anos lido com o jornalismo — a partir de 1981. Formei-me na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em meados da década de
1980. Naquele tempo eu via a imprensa, a chamada “grande” imprensa como
um instrumento de proteção da sociedade, além de considerá-la, apesar de
pertencer à iniciativa privada e comercial, entidade democrática
disposta a defender as liberdades de pensamento, de expressão, com o
propósito de, por exemplo, apoiar ações que efetivassem a distribuição
de renda, de terras, enfim, das riquezas produzidas pelos trabalhadores e
acumuladas pelos empresários deste imenso País injusto. Eu era jovem,
inexperiente e, além disso, no País não existia liberdade democrática,
havia a censura, as pessoas não falavam de política no dia a dia, o que
dificultava ainda mais perceber os reais interesses da imprensa
empresarial. Como me formei na metade da década de 1980, cujo presidente
da República era o general João Figueiredo, via a imprensa como um
segmento que lutava em favor de uma sociedade que se tornasse justa,
democrática e livre, processo este que somente acontece por intermédio
da implementação constante de justiça social, por meio de políticas
públicas desenvolvimentistas e distributivistas.
Naquele tempo, vivíamos em um regime de força, que teve seu
auge nos idos de 1967 a 1977, a imprensa, recém-saída da censura, que
“terminou”, definitivamente, em 1978, era vista por mim, jovem
jornalista, como um instrumento de resistência aos que transformaram a
República brasileira em uma ditadura militar, com a aquiescência e o
apoio financeiro e logístico de influentes segmentos econômicos da
sociedade civil, que viram na ascensão dos militares ao poder uma forma
também de aumentar seus lucros, sem, no entanto, serem alvos de
quaisquer questionamentos, já que havia a censura e a oposição
partidária à ditadura se encontrava em um momento de perseguição
política e sem voz ativa para ser ouvida, inclusive pela grande imprensa
que, por ser comercial, bem como o braço ideológico das elites
econômicas brasileiras, aliou-se aos novos donos do poder.
O jornalista minimamente alfabetizado, experiente e informado,
independente de sua formação cultural, política e ideológica,
independente de sua influência profissional e de seu contracheque, sabe
(ou finge não saber) que os proprietários da imprensa privada são
megaempresários, inquilinos do pico da pirâmide social mundial e
pontas-de-lança dos interesses do capital. A imprensa burguesa censura a
si mesma, quando considera que os interesses empresariais estão a ser
contrariados. O faz de forma rotineira, ordinária, e expurga de seus
quadros aqueles que não se unem ao pensamento único do Partido da
Imprensa, que é o de disseminar, ou seja, propagar, aos quatro cantos,
que não há salvação fora do mercado de ações, dos jogos bancários, da
especulação imobiliária e da pasteurização das idéias, geralmente
difundidas pelos doutores, mestres e professores das universidades e dos
órgãos de supremacia e de espoliação internacional, como o BID, o Bird,
o FED, a ONU, a OEA, a OTAN, o FMI, a OMC e a OMS.
Paralelamente, o Partido da Imprensa elege como adversários aqueles que contestam o sistema do capital como ele o é, ou seja, concentrador de renda, e exigem que ele se democratize no sentido de ele diminuir as diferenças entre as classes sociais e com isso efetivar uma equiparação, uma equanimidade entre os indivíduos que compõem o tecido social das nações que integram o planeta e são vítimas da geopolítica, que na verdade é a principal ferramenta do apartheid social e econômico entre os países. Os inimigos da imprensa burguesa geralmente são os políticos que têm uma visão soberana em relação ao país que administram e acreditam em idéias e ideais que qualifiquem os homens como iguais. São políticos que elaboram e adotam programas distributivistas. São políticos nacionalistas, como os presidentes estadunidenses, porém sem ser xenófobos, e que lutam pelo desenvolvimento do país, a fim de conquistar tecnologias e pesquisas científicas próprias, ter o controle das diferentes energias, além de acreditar em uma diplomacia não alinhada aos países hegemônicos, com o objetivo de efetivar uma relação de igual para igual e não subordinada e servil, como muitos jornalistas do Partido da Imprensa, a soldo de seus patrões, de forma inadvertida e irresponsável apregoam e desejam.
A imprensa comercial acusa e sentencia, difama e calunia,
dissimula e desinforma e mente se preciso for e se julgar que
determinado governante não vai ler por sua cartilha, que é a mesma dos
grandes conglomerados e trustes internacionais. Porque, como disse
anteriormente, a imprensa é ponta-de-lança dos interesses do sistema
capitalista excludente, além de ser seu braço ideológico. Ela é a
vitrine desse modelo expropriador, useiro e vezeiro em propiciar o
infortúnio e a derrota daqueles que ousaram um dia colocar em prática e
até mesmo somente defender a tese, por exemplo, de um Brasil forte,
independente e soberano. Caro leitor, o que concorda ou não comigo, a
imprensa é necessária e tem de ter liberdade para informar, mas não deve
e não pode tomar partidos, defender grupos e tentar pautar as
instituições republicanas. Ser jornalista não é sinônimo de ser
intelectual, dono e juiz da verdade, infalível ou senhor do poder. Ser
jornalista é ouvir e compreender, se for possível, o pensamento, as
idéias, os ideais, as opiniões, as teses, os projetos, os programas, os
propósitos, as atitudes, as ações e até mesmo as ideologias dos atores
sociais, políticos e econômicos.
O jornalista é a ponte que une o ator social e a informação à
população, ao povo, apenas isso e nada mais. Se o jornalista quer pautar
a sociedade e as suas instituições ele já tomou partido, e, como o
termo explicita, partidas serão suas opiniões. Portanto, o mais correto é
se filiar a um partido político, conquanto que não seja, todavia, o
Partido da Imprensa, que não disputa voto e, por ser ousado e não se
olhar no espelho, quer fazer da República Federativa do Brasil seu
feudo, conforme sua vontade, fato que foi provado, reiteradamente, nas
questões relativas à luta pela terra por parte do MST, nas questões
concernentes às reivindicações trabalhistas e salariais dos
trabalhadores dos setores público e privado, nas questões referentes às
eleições para presidente, governadores e prefeitos e nas questões
tangentes às crises políticas que derrubaram presidentes como Getúlio
Vargas e João Goulart, bem como na questão que influenciou na derrota do
candidato Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 1989,
bem como na tentativa de golpe contra o presidente Lula em 2005, além
de ter perseguido, incessantemente, políticos da envergadura de
Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, Luís Carlos Prestes, Miguel Arraes
e até mesmo Ulysses Guimarães, muito menos palatável para o Partido da
Imprensa do que Tancredo Neves.
O Partido da Imprensa combate tudo aquilo que possa dividir as
riquezas deste País, no que tange à redistribuição de renda. Quase todos
os programas sociais e econômicos apresentados no Brasil não tiveram o
apoio da imprensa hegemônica. Além do mais, a imprensa combateu e
combate ferozmente as políticas públicas independentes e
desenvolvimentistas executadas por Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek,
João Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva e agora, de maneira dura, o
governo da presidenta Dilma Rousseff. E isto é só o começo. O Partido da
Imprensa vai recrudescer seus ataques a Dilma quando ele desistir,
totalmente, de fingir apoio moderadíssimo à governante, para depois,
evidentemente, voltar à carga total no que é relativo aos seus ataques
ao Governo, ainda mais quando ficar claro quem vai ser o candidato da
direita nas eleições para presidente da República em 2014.
Para se ter uma idéia da desfaçatez e da insensatez do Partido da
Imprensa, ele combateu a criação da Petrobras, da Vale do Rio Doce, da
CSN e das leis trabalhistas — a CLT. Em compensação, apoiou as
tentativas de golpe em 1932, em 1938 e em 1954/1955, além de participar
dos golpes militares de 1945 (“golpe branco”) e de 1964. A imprensa
golpista sempre se aliou aos partidos conservadores, notadamente com a
UDN de Carlos Lacerda, Eduardo Gomes e Juarez Távora, partido moralista e
elitista, que recebia o apoio dos empresários e de parte da classe
média de perfil conservador.
Posteriormente, a UDN mudou a sigla e
passou a ser conhecida como Arena no governo militar, depois PDS para,
anos depois, virar PFL que, em 2007, finalmente, passou a se chamar
Democratas — o DEM.
Como a direita brasileira tem no máximo 30% dos votos, tanto
que sempre andou a reboque de partidos de centro e de centro esquerda, o
DEM (PFL), por exemplo, aliou-se, em 1989, a Fernando Collor e a seu
minúsculo PRN. Em 1994, teve de se aliar ao PSDB para chegar ao poder,
com seu vice-presidente Marco Maciel, o que foi ratificado nas eleições
de 1998. No período Lula, nos anos 2000, a agremiação conservadora
continuou como vagão dos tucanos. Antes, em 1960, o DEM, que é a UDN,
apoiou Jânio Quadros, que foi eleito presidente pelo pequeno PDC.
Todavia, os udenistas não confiavam em Jânio, considerado um político
independente, porque transitava pelos espaços da direita e da esquerda, o
que não agradava os direitistas, que desde 1930 sonhavam assumir
novamente o poder, como nos tempos da República Café com Leite. Jânio,
tal qual o Collor, não “dialogava” com o Congresso.
Como se percebe, o DEM nunca teve força política para chegar à
Presidência da República como partido hegemônico. Enfim, chegou ao poder
em 1964, por meio de um golpe militar que derrubou o presidente
trabalhista João Goulart, eleito constitucionalmente pelo voto direto.
Naquele tempo o vice-presidente era eleito separadamente. Não existia a
chapa vinculada. Todos esses fatos tiveram o apoio do Partido da
Imprensa, que é empresarial e apoia e sempre apoiou políticas econômicas
artificiais como o é o neoliberalismo, que fracassou e hoje até o FMI,
guardião desse fracasso, avisa aos maus navegantes, como ele, que vai
modificar seu processo de ajuda, de coordenação e de fiscalização das
políticas públicas, econômicas e financeiras receitado aos países pobres
e em desenvolvimento.
No Brasil, na América Latina, na Ásia e na África as receitas
econômicas e financeiras do Bird e do FMI causaram problemas sociais tão
graves que mesmo os governantes neoliberais dos países dessas regiões
perceberam que não dava para continuar o processo de espoliação desses
povos, sem que seus governos caíssem ou fossem derrubados. Mesmo assim,
os conservadores, os direitistas do mundo empresarial e político, no
Brasil leia-se DEM, Fenaban, Fiesp, agronegócios e, principalmente,
Partido da Imprensa, continuaram a apregoar o que não deu certo, o
indefensável e o que causou dor aos mais pobres, aos mais fracos e aos
que não podem se defender.
O Partido da Imprensa, com seus profissionais bem pagos e com a
cabeça feita por Wall Street e pelo Consenso de Washington de 1989,
prosseguiram, de forma ridícula, sem ao menos ponderar suas palavras
levianas, a apregoar um modelo econômico verdadeiramente contrário aos
interesses da Nação até que, por intermédio de eleições, os defensores
dessa política econômica burra e nefasta foram afastados do poder, tanto
no Brasil quanto em muitos outros países. Não se compreende, até hoje, o
que leva algumas elites a fazer gol contra. Mas se compreende que, ao
contrário do que afirmam os gurus do capitalismo de mercado que
estabelecem regras somente para os mais pobres e os mais fracos e dizem
se preocupar em assegurar a efetivação de um estado de bem-estar social,
que dignifique a pessoa humana, sabemos que o que importa à grande
imprensa e a direita política do planeta é perpetuar os privilégios
daqueles que fazem parte de sua classe social — os ricos e os muito
ricos.
Há uma espécie de seres humanos que dá pena. Acha que riqueza é
genética, é biologia. Quando na verdade a riqueza é um processo que
envolve milhões, quiçá bilhões de pessoas que a produz. Não é uma
questão biológica. É uma questão econômica e financeira que precisa,
deve e pode ser calculada e equacionada no sentido de distribuí-la. Se
dinheiro e bens materiais fossem parte de nossa biologia nasceriam com a
gente e seriam conosco levados ao caixão. Não consigo entender como
alguns jornalistas que se alimentaram adequadamente, que estudaram em
boas escolas, que têm capacidade de discernir se tornaram tão
pusilânimes, cínicos, dissimulados, covardes e mentirosos. Eles são um
contra-senso em toda sua essência e a burrice em toda sua plenitude.
Somente alguns advogados atingem a tanta incongruência.
A imprensa é parcial. Sua voz e seus canais de comunicação
pertencem aos que controlam e dominam o mercado de capitais e os meios
de produção, pelo simples fato de a imprensa ser o próprio, o espelho
que reflete a imagem do sistema. Ela traduz os valores e os princípios
do modelo econômico hegemônico. Ela é o principal e o mais importante
tentáculo do sistema capitalista. Ela é a sua alma e a sua voz. Não há
poder pleno sem o apoio da imprensa, para o bem ou para o mal. Seja qual
for o poder, a imprensa não abre mão de manter os privilégios do
segmento empresarial. Ela até compõe, mas ressalta seus interesses e
resguarda os privilégios. Não há hegemonia de uma classe social sobre as
outras sem o controle dos meios de comunicação. E é este processo,
draconiano, que acontece no Brasil e na América Latina.
O acesso da maioria das populações ao crescimento social e ao
desenvolvimento econômico acontece a conta-gotas, milenarmente. No caso
do Brasil, secularmente. É como acontece em jogos de futebol, quando o
time que está a ganhar passa tocar a bola, à espera de o tempo passar, à
espera de o jogo terminar. Os barões da imprensa, como patrões
seculares, querem o fim do jogo e para isso eles precisam pautar os
poderes constituídos e, inclusive, não raramente, questionar cláusulas
pétreas da Constituição, como, por exemplo, os capítulos voltados ao
trabalho e aos meios de comunicação. Meia dúzia de famílias quer o
controle total e irrestrito dos meios de comunicação. Meia dúzia de
famílias brasileiras, ao representar o grande empresariado nacional e
internacional, quer a flexibilização das leis trabalhistas, constituídas
pelo estadista Getúlio Vargas, que se matou em 1954 para não ser
derrubado, mais uma vez, pela UDN, pelos militares, pelo empresariado e
pela imprensa. Getúlio teve de se matar para adiar o golpe militar por
dez anos, o que ocorreu em 1964.
Para isso, os barões da imprensa contratam jornalistas de
confiança. Os jornais criticam os cargos de confiança no âmbito
governamental, mas não criticam seus cargos de confiança, pagos a soldos
altos, para que certos profissionais façam o papel de defensores do
status quo, do establishment, razão pela qual talvez tenhamos uma das
elites mais cruéis e alienadas do mundo, totalmente divorciada dos
interesses do povo brasileiro, há mais de cinco séculos. Tudo o que é
feito em prol do povo, os homens e as mulheres de imprensa, os que
ocupam cargos de mando, chamam de populismo. Mas tiveram a insensatez e a
ignorância política em defender o neoliberalismo, que fracassou de
forma inapelável e retumbante. Até mesmo jornalistas considerados
experientes como o Renato Machado e a Renata Vasconcellos, do “Bom Dia
Brasil” da TV Globo, saudaram, da forma mais imprudente e capciosa
possível, o golpe sofrido, em abril de 2002, pelo presidente
constitucional da Venezuela, Hugo Chávez, que foi, inclusive,
absurdamente seqüestrado, com o apoio da CIA do governo de George Walker
Bush, que se antodenominava o senhor da guerra.
Meu comentário não visa constranger o Renato Machado, até porque
não o conheço. Cito apenas um fato real, de conhecimento público,
notório e que ficou na memória e na retina de muitos brasileiros, porque
a saudação ao golpe foi incrivelmente surreal, um despropósito. Renato
Machado, de perfil político conservador igual a tantos outros
jornalistas, apenas, talvez até inconscientemente, comemorou a queda,
mesmo através da violência, de um homem constituído presidente, pois
eleito pela vontade do povo. Machado simplesmente reflete o desprezo do
Partido da Imprensa em relação aos interesses da sociedade, em relação
às determinações e aos desejos da sociedade civil. Não há nenhuma
surpresa. O Partido da Imprensa age assim, mostra-se assim, só que,
muitas vezes, inversamente ao Machado, apresenta-se de forma
dissimulada.
Renato Machado no dia seguinte à sua comemoração em referência
ao golpe contra o presidente venezuelano apareceu visivelmente
constrangido. Acho que ele não tinha dimensionado sua atitude. Sua
imagem, pálida e assustada, como se tivesse levado um grande susto ou
uma bronca deveria ser gravada pelas pessoas alheias ao jornal matutino
da TV Globo, com a finalidade de ser levada às escolas de comunicação
para servir de exemplo aos futuros jornalistas como NÃO se deve proceder
ou conduzir sua profissão. Foi realmente lamentável. Mas não foi uma
surpresa. O Partido da Imprensa trabalha assim. Saímos da ditadura
militar para a ditadura da imprensa e do pensamento único. Igualmente os
meios de comunicação hegemônicos apoiaram o golpe de estado em
Honduras, sem vacilar, inclusive criticaram, com veemência, por
intermédio de suas manchetes, de seus colunistas e comentaristas, a
decisão do Governo brasileiro de receber em sua embaixada o presidente
deposto de Honduras, Manuel Zelaya. Empresários e militares hondurenhos
efetivaram o golpe, com apoio do governo dos Estados Unidos. Depois
apoiaram o golpe no Paraguai e a queda do presidente eleito Fernando
Lugo. O Paraguai pagou caro. Está fora das decisões do Mercosul e da
Unasul até que sejam efetivadas novas eleições no país guarani. O
Partido da Imprensa aqui no Brasil ficou entusiasmado. Desconfio que até
hoje os próceres da imprensa e seus empregados de confiança estão a
brindar o golpe de estado. Devem sonhar, sobretudo, com o ano de 1964.
Saudosamente...
Dentre os muitos erros perpetrados pelos militares, um dos
maiores foi a censura aos meios de comunicação. E por quê? Porque hoje,
no regime democrático, a imprensa se recusa a ser regulamentada como
acontece com outros setores da sociedade e, por que não, do mercado. Ela
usa como argumento que criar, por exemplo, o Conselho Federal de
Jornalismo é tentar censurar a imprensa, o que não é verdade. Criar o
Conselho é regulamentar os meios de comunicação, que não podem deixar de
ser fiscalizados, como o são os juízes, os médicos, os advogados, os
professores, os arquitetos e engenheiros, os economistas, os contadores,
os políticos etc. etc., por intermédio de seus órgãos de classe
profissional.
Para evitar a criação do Conselho Federal de Jornalismo e de uma
política que funcione como marco regulatório para os meios de
comunicação, o Partido da Imprensa usa como argumento, há muito tempo
surrado, que tentar regulamentar a imprensa é censurá-la, como ocorreu
na ditadura militar. A verdade é que os barões da imprensa e seus
jornalistas de confiança não querem a democratização dos meios de
comunicação, porque não querem responder, como os outros profissionais,
pelos seus erros, muitas vezes exemplificados em calúnias, difamações,
omissões, distorções e manipulações das informações noticiosas, além da
clara intromissão no processo político brasileiro, ao tomar partido de
determinado candidato, geralmente de perfil conservador e elitista.
Além disso, extinguiram a Lei de Imprensa, sem antes, no
entanto, criarem instrumentos que a regulamente, como, por exemplo, a
Ley dos Medios aprovada na Argentina. Absurdo dos absurdos é deixar uma
imprensa, uma mídia de passado golpista e mercantil sem um marco
regulatório. A presidenta Dilma não pode e não deve deixar de
regulamentar e criar regras para o setor dos meios de comunicação de
perfil empresarial e comprometido com os interesses geopolíticos dos
Estados Unidos e com o grande empresariado nacional e internacional. Uma
presidenta trabalhista como a Dilma jamais deveria vacilar quanto à
elaboração e aprovação de uma Ley dos Medios para o Brasil e o seu povo
trabalhador. Seria uma séria imprudência. Lembremo-nos de Getúlio
Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e do presidente Lula, todos
perseguidos pela imprensa privada, de forma dura e desumana. Dilma sabe
disso. Ela fez carreira política no berço do trabalhismo brasileiro, que
é o Estado do Rio Grande do Sul, e viu o presidente Lula comer o pão
que o diabo amassou durante oito anos.
Não é necessário ser um especialista em “assuntos de imprensa”
para perceber que ela é um desastre em relação aos interesses da
sociedade. Ditatorial, raivosa e vaidosa não mede conseqüências para
fazer do processo político brasileiro uma novela de má qualidade
textual, cujo objetivo é somente a manchete, chamariz comercial para a
imprensa vender e ganhar muito dinheiro, mesmo se for com o linchamento
moral de terceiros, muitos deles, depois comprovado, sem culpa no
cartório. Sua atuação é incompetente, porque, sistematicamente, não tem
ouvido nenhuma das partes implicadas ou envolvidas em quaisquer fatos,
mas sim ouvido a si mesma, por meio de suas deduções e de seu raciocínio
ardiloso, intelectualmente desonesto, que visam confundir o público e
assim garantir seus interesses.
Por tudo isso, o Partido da Imprensa é contra qualquer criação
de órgão que possa acompanhar seus passos, como o Conselho Federal de
Jornalismo e o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Além do
mais, os barões da imprensa se recusaram a participar da Conferência
Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro de 2009, que
estabelece novo modelo para o setor, que atualmente é um monopólio de
meia dúzia de famílias, que combatem os avanços sociais da sociedade
brasileira. O documento elaborado no evento vai ser analisado e avaliado
pelos poderes constituídos, para depois se transformar ou não em lei.
Os empresários proprietários da imprensa e da mídia comercial não querem
debater e negociar nada. Querem que as coisas fiquem como estão, o que
não será possível, ainda mais que Dilma Rousseff venceu as eleições
para presidente em 2010. Evidentemente que alguma coisa vai mudar.
A arrogância e a prepotência de meia dúzia de famílias que
controlam os meios de comunicação no Brasil não favorecem a
democratização da imprensa, o que impede que ela, de fato, trabalhe em
benefício do desenvolvimento social do povo brasileiro, em vez de ficar a
distorcer realidades ou criar fatos, muitos deles sem fundamento, mas,
contudo, propositais, pois a finalidade é confundir a sociedade e,
consequentemente, proteger ou concretizar seus interesses e do grande
empresariado, geralmente financeiros e econômicos. Essas atitudes,
sobremaneira, prejudicam as atividades daqueles que são incumbidos pelo
povo para administrar os três poderes.
A imprensa quer falar pelo povo e representá-lo, mas não disputa
eleições e não concorre a cargos públicos. Ela não tem voto. A imprensa
é tão arrogante e ignorante que confunde opinião pública com opinião
publicada. A imprensa publica e opina, por meio de matérias combinadas,
de editoriais, de articulistas e de colunistas. Por isso, sua opinião é
publicada. Ela paga a profissionais para publicar suas opiniões sobre
determinado assunto. Por sua vez, a opinião pública é feita, é realizada
e é concretizada por intermédio do voto. Portanto, o voto é a opinião
pública. Palavra e opinião de jornalista ou de quaisquer outras pessoas
que atuam em outros segmentos é opinião publicada. Então, vamos ver se a
imprensa entendeu: 1) jornalista = opinião publicada, que, por sinal,
tem valor. 2) povo = opinião pública = o voto, que, por sinal, tem muito
mais valor. É isso aí.
No twitter atendo como @JimmyNight
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