Por Karol Cavalcante*
No próximo domingo (17/04), a Câmara dos Deputados deve votar o pedido de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Estamos diante de um julgamento político onde uma presidenta eleita democraticamente nas urnas com 54.501.118 de votos, poderá ter seu mandato cassado sem nenhuma base legal. Os parlamentares que participarão da votação decidirão se interrompem o ciclo democrático em curso no país ou não. Caso o impeachment seja aprovado, teremos as regras institucionais quebradas e certamente entraremos em um clico “perigoso” no Brasil, em consequência da fragilização das instituições.
Frente a polarização, em todos os lugares o assunto virou tema recorrente, entrou para rotina dos brasileiros. Manifestações contrárias e favoráveis tem se intensificado por todo o país. Para medir a opinião dos brasileiros, diversas pesquisas vem sendo realizadas. Há 30 dias os favoráveis ao impeachment chegavam aos 68%, segundo o instituto Data Folha¹. Ao que parece a polarização entre os favoráveis e os contrários ao governo da presidenta Dilma tem mudado este cenário.
Pesquisa realizada pelo laboratório de ciência política da Universidade Federal do Pará, coordenado pelo professor doutor Edir Veiga, revela que a tentativa de golpe em curso no país vem perdendo apoio na população da capital paraense. Realizada entre os dias 30 e 31 de março, com 751 questionários aplicados em diversos bairros de Belém e com margem de erro de 4% para mais ou para menos a pesquisa tem intervalo de confiança de 95%.
Perguntados em relação ao pedido de impeachment da presidenta Dilma 58% disseram ser a favor, 31% se declararam ser contrários ao impedimento da presidenta e 10.2% não sabem ou não responderam. Contrários e indecisos chegam a 42% dos belenenses. No Brasil o apoio ao impeachment da presidenta já chegou até 68%. Ficando evidente que o golpe vem perdendo apoio. Entre os favoráveis, a pesquisa revela que a maioria tem entre 35 a 44 anos, já os contrários são em sua maioria um publico mais jovem com faixa etária entre 21 a 24 anos 39.4%.
Quanto a renda, a pesquisa revela que a ampla maioria que deseja o impeachment da presidenta é de classe media alta. 65.2% dos pesquisados revelam ganhar acima de R$ 4.401,00. Já entre os apoiadores da presidenta a maioria se divide entre os que ganham até R$ 880,00 reais, 32.0% e que ganham acima de R$ 1.761,00 37.4%.
Em Belém as manifestações dos favoráveis ao impeachment apresentam um certo recuo e os atos organizados pelos partidos de esquerda e centrais sindicais vem ganhando força. Movimentos liderados por professores, juristas, artistas e intelectuais vem se difundindo na sociedade paraense, enquanto as manifestações de direita se resumiram a discretas inciativas sem grande adesão de público, o que indicaria um refluxo do movimento.
Esse cenário, ao que parece, também reflete na mudança de posição da bancada federal do Pará na Câmara dos Deputados. Segundo dados do movimento vem pra rua (movimento liderado pelos chamados coxinhas), inicialmente dos 17 deputados paraenses, 6 eram contrários, 7 favoráveis e 4 indecisos. Com a proximidade do dia da votação os indecisos começam a se definir e os atuais números indicam que a bancada paraense deve votar 9 contrários ao golpe e 6 favoráveis. Há ainda dois indecisos com forte tendência ao voto contrário ao impeachment.
Caso essa tendência se mantenha, por outros estados, o golpe em curso deverá ser barrado. Caberá ao governo Dilma, governar com a sua nova base de apoio no Congresso, afastando-se de vez das medidas de austeridades, e reaver a agenda de governo que foi referendada nas urnas, pautada em mais direitos sociais e na retomada do crescimento econômico. Em suma: implementar o programa eleito em 2014.
¹ Pesquisa realizada pelo Instituto DataFolha, nos dias 17 e 18 de março, ouviu 2.794 eleitores em 171 municípios de todo o Brasil. Publicada no jornal Folha de São Paulo na edição de 20 de março.
*Karol Cavalcante é Socióloga, especialista em Gestão Estratégica em Politicas Públicas pela UNICAMP. Atualmente estudante do mestrado em ciência política da UFPA e colabora do Blog AS FALAS DA PÓLIS.
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