Por Georghio Tomelin, advogado em São Paulo
A reeleição do projeto do PT para o Brasil foi muito sofrida. Lembrou bastante a tragédia do sete a um para a Alemanha na Copa. Digo isto porque a seleção brasileira sofreu um apagão igual aos petistas de carteirinha e os sem bandeira.
O PT construiu um discurso de oposição, com propostas sólidas, nos anos que antecederam à primeira eleição de Lula. Na PUC/SP assistimos, em paralelo a isso, o desmonte dos núcleos do PT e o fim dos debates internos. No último dia em que fizemos campanha pela Erundina (ainda no PT) lá na PUC tivemos que segurar os alunos (hoje eleitores do Aécio) que queriam jogar rolos de papel higiênico molhado nela, quando entrava no Centro Acadêmico de Serviço Social (os badboys estavam no 3º andar).
Lula criticou os 300 picaretas e depois fez um acordo com eles. Isto não impediu o Brasil de mudar. Rompemos brancamente com o FMI. Criou-se uma economia solidária e o impulso do bolsa-família nas pequenas comunidades é notável e passível de ser medido. O impacto nos aeroportos (com a direita sofrendo com o “pobre-agora-voa”) e no acesso aos bens de raiz e de consumo é algo maravilhoso (o sonho do carro zero e da casa própria foi realizado para milhares de pessoas). O acesso à universidade (com o ProUni), às escolas técnicas, e a possibilidade real de algum tipo de atendimento de saúde público (com SAMU, Mais-Médicos, etc, etc.) têm ampla aprovação social.
Se tudo isso é verdade, porque então os petistas quase morreram de infarto ontem? Quem estava na sala sigilosa do TSE viu Aécio “matematicamente quase eleito” até 89% das urnas apuradas, e ele foi mesmo avisado disso, mandando chamar FHC, Serra et caterva para a “festa da vitória”. O que de errado o PT fez, que não conseguiu comunicar todas as melhorias para a sociedade? O curioso é que estas melhorias impactam mais na classe rica do que na menos favorecida, pois o entorno social mais justo diminui criminalidade e melhora a qualidade dos serviços.
Ao lacerdismo da imprensa (com discurso maniqueísta e moralista) o PT respondeu com a idealização da corrupção. Os números, é claro, estão a favor do PT (mensalão 70 milhões vs. Metro de São Paulo com sumiço de 500 milhões; Petrobras/Passadena com 1 Bi contra 4 Bi entregues aos acionistas da Sabesp no lugar de investir em água). Claro que não adiantou gritar isso, pois contra a mídia a gente no máximo empata: não ganha nunca!
Houve então falha de comunicação do PT para com a sociedade? Ou a direção se acabrunhou? O Prefeito Haddad escondido embaixo das faixas vermelhas derrapantes de bicicleta pouco fez pela campanha (só apareceu depois da vitória para discursar). Em São Paulo poucos eram os adesivos do PT ou faixas em carros. Eu mesmo tive grandes problemas ao comunicar sozinho e muitas vezes isolado minha opinião (sobretudo em frente aos clientes, pois sou advogado em São Paulo que é a sede da Veja). Houve até um episódio de um ex-advogado de Lula (que se fantasiava de Karl Marx e só por isso foi nomeado ao STF) que fez um vídeo declarando apoio a “Aécio pelo fim da corrupção do Governo Lula”. Uma vergonha. Uma dupla vergonha: Lula nomeou um cara desse, que sempre fingiu ser de esquerda, e agora como advogado manda mensagens para a sua “nova” clientela apoiando-se nas costas de Lula: “venham a mim, sou ex-ministro, mas estou aqui para orientar vocês sobre as verdades internas do PT”. Apostasia pura que a cegueira de Lula consentiu!
A verdade é que o Governo Lula foi sucedido por uma geração de assessores (sem base popular, sem formação em política, sem estímulo ou necessidade para dar a cara para bater) que ficaram inebriados pela legitimidade popular do Chefe (e os frutos fáceis que daí recolheram). Ao menor aperto, saem todos correndo (ou correm para debaixo da saia do novo chefe-de-mercado, como fez o Karl Marx tupiniquim do STF). O Governo “Dilma 1” foi o Governo Porta-Fechada. Não recebeu Congressistas, não conversou com os Sindicatos, não debateu com a Academia, não discutiu com as forças sociais reais.
Durante a campanha conversei com muita gente afinada com o PT e outros com o PSDB. É uma tragédia o que os orgânicos do PT pensam do próprio PT. Muitos não têm densidade para defender os programas do próprio Governo. Assim também os tucanos de ocasião: a grande maioria apoia as ideias e projetos do PT mas está completamente cega ou desinformada pelo trabalho da mídia em favor dos interesses corporativos dos patrões e patrocinadores. A falta de formação da militância levou a isso, pois o embate se deu no corpo a corpo nas redes sociais e poucos dos que apoiavam Dilma ou Aécio sabiam realmente defender ou diferenciar os dois modelos. Virou porradaria total, como bem representou o cartunista Jean.
Hoje é o primeiro dia depois da eleição. Ou bem as pessoas que estão perto do Governo acordam para a necessidade de requalificar a militância e repensar a legitimidade do PT perante a sociedade, ou 01.01.2019 será ainda mais tenebroso, até porque, nesse ritmo, parece claríssimo para mim que este é o último mandato do PT na Presidência da República.
Boa sorte a Dilma no novo Governo !
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