Por Georghio Tomelin, advogado em São Paulo
O combate às drogas preocupa todos os que possuem filhos. Ontem à noite (23.10.2014), o Senador Aécio Neves trouxe no programa eleitoral a ideia de colocar as Forças Armadas para combater o narcotráfico. O tema das drogas precisa sim ser debatido com seriedade. Nisso ele tem razão.
O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso é sabidamente um defensor do abolicionismo das figuras criminais que envolvem o tráfico e o uso de drogas. Esta ideia já foi defendida por outras autoridades mundiais como, por exemplo, Milton Friedman (o que mesmo que disse “não existe almoço grátis”, frase tantas vezes repetida por Ralph Nader e muitos outros entre nós).
A ideia de FHC é simples e corretíssima. O grama da cocaína, por exemplo, já chegou a gravitar perto do preço do grama do ouro. Foi aí que Friedman declarou: “não dá para lutar contra alguém que planta ouro em arbustos”. Ou seja, com a margem de lucro muito alta o traficante é mais poderoso do que a polícia. A única coisa que pode desarmar o traficante é o barateamento do produto. Com o preço alto o traficante compra as autoridades encarregadas da repressão e adquire armamentos. Abolir o crime e liberar as drogas faria o preço cair e assim também a violência daí advinda.
O resto é educação. Já conseguimos aumentar a porcentagem de crianças de baixa renda nas escolas e Universidades, e agora precisamos educar os de alta renda (pois são eles que consomem as drogas em maior porcentagem). Educação é a solução. Violência só leva a mais violência.
E as Forças Armadas? O que dizer da ideia contrária à de FHC: aumentar a repressão em vez de abolir (como propõe o ilustre Senador Aécio). O primeiro problema é que não existe como criar um cordão sanitário no entorno do tráfico. Ele se mescla com todos os setores da sociedade. Não é uma doença, mas sim uma “festa” que cerca muitos jovens de todas as classes (os EUA já tiveram um Presidente viciado em drogas, e foi uma catástrofe cujos efeitos rondam os americanos até hoje).
Por sinal, o modelo de colocar o exército dos Países para correr atrás das drogas é o modelo norte-americano de combate para os demais Estados que julgam seus aliados (pois eles mesmos têm o DEA – Drug Enforcement Administration – e não fazem isso). Qual a plano dos norte-americanos para nós?
Nos EUA, eles possuem muito armamento obsoleto estocado, por conta da Guerra Fria (lembremos os escândalos com as armas no Vietnã e Afeganistão). Tais armas são ainda muito eficazes, mas os meninos de lá (os “mariners” que fizeram 700 mil viúvas no Iraque) não possuem mais treinamento para utilizar tais armas (hoje utilizam potentes miras-laser outros e outros aparatos mais modernos).
Qual então o plano dos americanos para tais armas? Vender, é claro. Vender para os países alinhados. Vender para o “combate às drogas”. Assim, o governo deles venderia parte das armas para o governo brasileiro (sob a forma de “convênio” para o combate conjunto das drogas) e outra parte “por debaixo dos panos” para a guerrilha urbana (algo que os EUA já fizeram muitas vezes, como todos sabemos).
Uma tal sistemática, num País grande como o Brasil, poderia contaminar toda a América Latina e fazer consumir rapidamente as armas estocadas nos EUA, hoje sem utilidade para eles.
Tudo isso para dizer: “viva FHC e sua posição contra as drogas”. Ele está de parabéns. Temos um ex-presidente corajoso que enfrenta o tema de cabeça erguida e sem medo (melhor do que o seu par que “fumou mas não tragou”). Abaixo o tráfico e a cocaína nos Governos. Abaixo a ideia de colocar nossos jovens recrutas (sem o preparo necessário) para combater as drogas.
Precisamos que nossos amigos, que tenham contato com a cúpula da campanha de Aécio, o façam voltar atrás dessa ideia de apoio ao aumento da violência. Precisamos que o Senador Aécio leia FHC (de preferência os livros do sociólogo FHC, antes do “esqueçam o que eu escrevi”). Em 2014, de volta ao Senado, se adotar esta linha, Aécio poderá provar que é realmente contra o uso das drogas.
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