Nem todo eleitor de Bolsonaro é fascista. O bolsonarismo e o fascismo são movimentos de massas, mas não de classes e, portanto, sem consciência de classe e não buscam o interesse comum. São massas analfabetas políticas, desiludidas, desesperançosas com a humanidade, com medo, “contra tudo o que está aí”, supostamente “neutras” ideologicamente, reprimidas há décadas social, política, econômica e sexualmente, vindas de famílias sedentas por autoridade, humilhados por quem tem mais poder financeiro, político, intelectual ou de sedução. Tem ansiedade sexual e receio de que os diferentes ou subalternos contaminem sua nação e de perderem poder para pobres, mulheres, negros, indígenas, gays, deficientes, adversários políticos e pessoas com religiões diferentes. Têm fé numa Igreja ou em qualquer forma de misticismo, ou na figura de um “salvador da pátria”. São massas apáticas e muitas vezes hostis à vida pública, geradas pela sociedade competitiva de consumo, sensíveis às cores da bandeira mas insensíveis nas questões sociais, o que os leva, muitas vezes de forma inconsciente, a defenderem posições cruéis e invejosas, contra a fraternidade. Olham apenas para o seu umbigo, da sua família ou de seu grupo de iguais na cor e religião. São contra a arte, a cultura, a ciência, a educação emancipadora, e encaram a vida de maneira mística, irracional e mecanicista. E anos depois, se arrependem com os estragos gerados pelo fascismo.
Tarso Cabral Violin
Advogado, Pós-Doutor em Direito do Estado pela USP e Professor Universitário