Hoje na Folha de S. Paulo
ANTONIO DELFIM NETTO
Gleisi
Gleisi Hoffmann reassumiu sua cadeira no Senado depois de ter se desincumbido muito bem de suas funções na espinhosa Casa Civil. Testemunhos de importantes interlocutores do setor privado são a prova de que sua inteligência e seu comportamento foram importantes para melhorar suas relações com o governo.
O sucesso dos recentes processos de concessões deve muito à sua ação e à dos ministros Mantega e César Borges, no convencimento dos potenciais concorrentes de que a defesa da “mocidade tarifária”, na transferência de monopólios públicos para o setor privado, estava longe de ser o desejo ideológico de construir um “capitalismo sem lucro”.
Numa entrevista concedida à competente jornalista Débora Bergamasco, publicada no domingo pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, Gleisi revela, por um lado, humildade e coragem e, por outro, que captou as dificuldades da administração pública que o PT ainda não entendeu. Por conta da humildade, temos sua réplica à pergunta “por que as respostas do governo são lentas?” Diz ela: “porque dependem da articulação das três esferas da Federação e de vários órgãos”.
E acrescenta sem rebuços: “Claro que eu gostaria que tivesse maior celeridade. Claro que se eu tivesse, no início, a experiência e o conhecimento que tenho agora, acho que eu teria conseguido fazer isso”.
Mais importante é a sua corajosa reflexão em resposta à pertinente, mas incômoda, pergunta da arguta jornalista: “Qual é a maior dificuldade do governo em fazer o Brasil andar?” Vale a pena transcrever, para iluminar alguns ideólogos das virtudes do estatismo. Ela responde: “Ainda é a falta de cultura da máquina pública de agir por resultado. Temos uma baixa cultura de comprometimento de entregas. O serviço público não está acostumado a isso, então quando nós cobramos resultados muitas vezes tem reação. Quando cobramos metas, organização, não temos o retorno esperado porque é uma questão de cultura e também da própria organização do serviço público, em que a estabilidade está na base e a instabilidade está no comando. Isso faz com que o setor público acabe ficando mais acomodado”. A frase é antológica, “a estabilidade está na base e a instabilidade no comando”!
Se há alguma dúvida sobre a verdade essencial dessa ponderação, basta atentar para as dificuldades que estamos vivendo no setor elétrico, além dos problemas climáticos: 40% do volume de energia planejado para estar em operação não foi entregue na data prevista, por dificuldades de toda natureza. Ainda mais lamentável é o descompasso de mais de um ano entre os projetos que estão prontos e as necessárias linhas de transmissão, o que elevará para sempre o custo da energia.
Arquivado em:Política
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo