Na Folha de S. Paulo de ontem
Irmão de dirigente do PSB pediu dinheiro a doleiro, diz polícia
Mensagens indicam repasses a parente do ex-ministro Fernando Bezerra, aliado de Eduardo Campos em PE
Depósitos de Alberto Youssef alimentaram as contas do filho e da mulher do ex-presidente da Codevasf
ANDRÉIA SADI, DE BRASÍLIA
Ex-presidente da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e irmão do ex-ministro Fernando Bezerra, Clementino de Souza Coelho foi flagrado na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, pedindo dinheiro para o doleiro Alberto Youssef.
Clementino presidiu por um ano a Codevasf, uma empresa pública vinculada ao Ministério da Integração Nacional, comandado por Fernando Bezerra de 2011 a 2013. Bezerra, que escolheu o irmão para o cargo, chefiou o ministério por indicação do PSB e é homem de confiança do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, pré-candidato do PSB ao Planalto.
A PF interceptou trocas de e-mails de Clementino com o doleiro, preso desde março.
A polícia encontrou nas mensagens comprovantes de depósito em valores fracionados para “João”, além de pedidos de dinheiro para “Maria” e “Fábio”.
Números indicados por Youssef nas mensagens como os dos CPFs dos favorecidos correspondem aos documentos de João Clementino de Souza Coelho e Maria Cristina Navarro de Brito, respectivamente, filho e mulher de Clementino de Souza Coelho.
“Fábio” é descrito pela PF como Fábio Leivas, que a polícia não diz quem é. A Folha não conseguiu identificá-lo.
Em um dos e-mails, de 30 de janeiro deste ano, Clementino enviou a Youssef, a quem chama de primo”, dados de uma conta bancária com os dizeres: “assim sendo fica: Fabio 30, Maria aprx 35, joao 60″. A expressão “aprx” significa “aproximadamente”.
No dia seguinte, o ex-presidente da Codevasf cobrou por e-mail: por favor, assegure que as entregas serão feitas hoje ainda os 3 endereços fornecidos, sendo JOAO 60, FABIO 30 E MARIA OS 35…”.
No dia 4 de fevereiro, Youssef enviou os dados bancários de João Clementino e Maria para um contato que a PF suspeita auxiliar o doleiro no possível “cometimento do crime de evasão de divisas”.
O contato do doleiro escreveu “60.000,00″ embaixo do nome de João e “35.289,00″ embaixo de “Maria”. A PF apreendeu ainda comprovantes de depósitos em nome de João Clementino, em valores diversos, segundo o relatório: “R$ 500, R$ 10.000, R$ 9.900″.
A Folha tentou falar ontem diversas vezes com Clementino e Maria Cristina. Deixou recados com uma funcionária do casal, mas não obteve resposta. A Folha não conseguiu localizar João Clementino.
Procurado pela Folha, o ex-ministro Fernando Bezerra disse desconhecer o assunto e prometeu entrar em contato com o irmão para que ele desse mais esclarecimentos, mas não pôde localizá-lo.
Bezerra deixou o governo em 2013, após Eduardo Campos romper com o PT para se lançar candidato ao Planalto. Segundo Bezerra, Clementino não é filiado ao PSB.
Em janeiro de 2012, Clementino teve de deixar a presidência da Codevasf, após acusações de que Bezerra teria ignorado o decreto antinepotismo ao manter o irmão na estatal durante um ano. Ele foi nomeado após Bezerra tomar posse no Ministério da Integração Nacional.
A Codevasf possui um orçamento bilionário para investir em obras como a perfuração de poços para o combate à seca no Nordeste.
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