Manifestantes da periferia pedem emprego, ônibus barato e faculdade de graç
17 de Agosto de 2015, 8:15Por PATRÍCIA CAMPOS MELLO, na Folha de S. Paulo de hoje
Enquanto os manifestantes gritavam contra a corrupção e o Estado inchado na avenida Paulista, um punhado de jovens do Itaim Paulista e Cidade Tiradentes, da zona leste, foi aos Jardins pedir mais emprego, ônibus barato e faculdade de graça.
Eram 13h quando o grupo da Zona Leste se reuniu no metrô Itaquera, seguindo convocações que circularam por WhatsApp e Facebook. Eram 30 pessoas. Metade era ligada ao PSDB ou ao Vem Pra Rua. O resto era estreante em passeata.
Os amigos Tony Silva Montenegro, 23, Rodrigo Paulino Rocha, 17, e seu irmão Leandro, 24, vieram direto do baile funk, sem dormir.
Levaram uma hora em dois ônibus do Itaim Paulista até a estação Itaquera do Metrô, e, de lá, mais uma hora até a avenida Paulista.
Leandro era confeiteiro em um supermercado e perdeu o emprego dois meses atrás. Vestia uma camiseta com a bandeira dos EUA, porque “a do Brasil sujou no baile”.
“A conta de luz está um absurdo, subiu muito”, disse Rodrigo. “Fora o crime: tiraram a guarita de lá do bairro e a viatura nunca passa.”
Assim que chegaram à Paulista, os três amigos levaram um susto ao ver duas senhoras tirando uma foto com os policiais da tropa de choque. “Selfie com o Choque já é demais”, disse Rodrigo, que teve um irmão de 25 anos assassinado há três anos, “confundido com um policial”.
Na avenida, os amigos cruzaram com um grupo fantasiado, tocando gaitas de foles: eram do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, ligado à Sociedade Brasileira de Defesa de Tradição, Família e Propriedade (TFP).
“Que porcaria é essa?”, perguntaram, e foram tirar selfies.
Enquanto a maior parte dos manifestantes usava camisa verde-amarela e carregava faixas, os jovens da periferia foram à paisana, de boné virado para trás, tênis Mizuno e Asics e cabelos com mechas coloridas.
Segundo o Datafolha, apenas 6,2% dos participantes do protesto tinham renda de até 2 salários mínimos (R$ 1.576), 3% se declararam negros e 17%, pardos.
“Acho que eles têm preconceito contra a gente, mas vim mesmo assim, porque a Dilma tem que sair” disse Tony, que é pedreiro.
Em seu manifesto, o Vem Pra Rua defende um país onde “a liberdade econômica é estimulada e o Estado não é maior que o necessário.” Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre, prega “um Estado mínimo, que não se intrometa na vida do cidadão”. O grupo da periferia também está descontente com Dilma. Mas sua pauta passa longe do encolhimento do Estado.
Jennifer Soares, 20, promotora de vendas que ganha R$ 1.013 por mês, pega cinco conduções por dia e quer baixar a tarifa de ônibus. Outra reivindicação é faculdade de graça. “É preciso ter programas do governo para isso.”
Geraldo Lucas, 21, deve quase R$ 3.000 em mensalidades na faculdade e quer ampliação do Fies.
Para Oziel de Souza, do diretório do PSDB de Cidade Tiradentes, as manifestações não estão sintonizadas com a periferia. “A periferia quer bilhete único, mais estações de metrô, faculdade de graça e shoppings”, diz. “Mas participamos mesmo assim, porque queremos tirar a Dilma.”
Já para os três amigos do Itaim Paulista, o sono bateu, a água estava R$ 4 e a música não era lá essas coisas. Depois de apenas uma hora e meia na Paulista, foram para casa, porque na segunda precisam acordar cedo. E o ônibus continua cheio.
Arquivado em:Política Tagged: Estado Social
Elite branca, rica e tucana foi às ruas
17 de Agosto de 2015, 8:15Segundo o Datafolha a maior parte dos manifestantes que foi ontem (16) à avenida Paulista, na capital de São Paulo é:
Homem (61%),
Tem 51 anos ou mais (40%),
Cursou o ensino superior (76%),
Se declara branca (75%),
Não é ligada a nenhum partido (52%),
Tem renda familiar mensal entre R$ 7.881 e R$ 15.760 (25,17%),
Preferem o PSDB (33%) e
Votaram em Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições de 2014 (77%).
Apenas 3% de negros e 17% de pardos.
Apenas 6% de jovens de 21 a 25 anos.
Apenas 5% votaram em Dilma Rousseff (PT).
Portanto, a realidade não é o povo nas ruas. Não são os eleitores da esquerda e centro-esquerda nas ruas.
A realidade é que a direita fascista, conservadora ou reacionária, não tem mais vergonha de se expressar e está muito bem organizada, via redes sociais e com muito dinheiro do empresariado.
Não aguentam mais a redução das desigualdades, não aguentam mais ver o filho do pobre na escola, não aguentam mais ver as instituições brasileiras se consolidarem com um governo encabeçado por partido de centro-esquerda.
O movimento, mesmo enfraquecido, se comparado com 15 de março, é um recado importante. O de que devemos radicalizar ainda mais nossa jovem Democracia.
Arquivado em:Política Tagged: elite, golpe
Por que as manifestações golpistas foram um fracasso?
16 de Agosto de 2015, 16:13As manifestações de hoje (16) pelo Impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), contra o Partido dos Trabalhadores e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram um fracasso, com bem menos gente do que os movimentos de junho de 2013 e as duas manifestações de março e abril de 2015.
São vários os motivos:
1. Muita gente que participou das demais manifestações queriam apenas um país ainda melhor, com mais educação e saúde e menos patrimonialismo na Administração Pública, e não a pauta fascista e golpista do movimento de hoje;
2. As manifestações de hoje foram apoiadas por partidos de direita, conservadores, reacionários e elitistas, com o intuito de derrubar a presidenta e assumir o poder, mesmo com a derrota eleitoral em 2014;
3. Não há juridicamente qualquer fundamento para o Impeachment de Dilma;
4. A grande maioria do povo brasileiro é contra uma repetição do golpe militar de 1964 e a ditadura de 21 anos que o sucedeu;
5. Os brasileiros querem que as promessas da Constituição de 1988 sejam cumpridas, como redução das desigualdades, Justiça Social, Bem-Estar, e sabem que uma ruptura democrática poderia gerar retrocessos sociais e econômicos graves para o país;
6. Os empresários milionários que patrocinaram o movimento não representam os interesses da sociedade brasileira.
Arquivado em:Política Tagged: golpe, Impeachment
Os arrependidos de 64
16 de Agosto de 2015, 4:13O que Sobral Pinto, Carlos Heitor Cony, Dom Paulo Evaristo Arns, Antônio Callado, a grande maioria dos dirigentes da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, a quase totalidade dos jornais brasileiros e vários outros políticos e personalidades têm em comum?
Eles apoiaram o golpe militar-empresarial de 1ª de abril de 1964.
Cony e Callado arrependeram-se em alguns dias, outros passaram a condenar o golpe após o AI-5 em 1968, alguns após as torturas, desaparecimentos e assassinatos. A Rede Globo, que foi privilegiada e cresceu de forma exponencial durante a ditadura, pediu desculpas pelo apoio apenas recentemente.
Alguns, pasmem, até hoje dizem que foi uma “revolução” para livrar o Brasil do comunismo.
O fato é que não apenas fascistas apoiaram o fim da Democracia em 1964.
Muitos deles foram desculpados pela História, outros não.
Foram 21 anos sem Democracia, sem controle social, sem transparência, sem cidadania, sem Política, o que até hoje pagamos mesmo com a redemocratização na década dos anos 1980.
Que os golpistas de hoje mudem de ideia antes que o pior aconteça: mais uma ruptura na Democracia brasileira.
Arquivado em:Política Tagged: golpe de 64
Seminário Mídia e Democracia nas Américas: Inscrições abertas
14 de Agosto de 2015, 20:11Entre os dias 18 e 20 de setembro, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a Agência Latino-Americana de Informação (Alai), do Equador, promovem o Seminário Mídia e Democracia nas Américas. O encontro reunirá autoridades e especialistas internacionais para discutir o cenário político, o papel da mídia e a luta pela democratização da comunicação no continente.
A atividade ocorre no San Raphael Hotel (Largo do Arouche, 150), no centro de São Paulo. As inscrições são limitadas e podem ser feitas aqui. O valor é de R$ 100, sendo que estudantes pagam a metade (R$ 50). O formulário de adesão está aqui, assim como informações sobre hospedagem.
PROGRAMAÇÃO
18 de setembro – sexta-feira
18h – Abertura
19h – A urgência da democratização dos meios de comunicação
– Ricardo Berzoini – ministro das Comunicações;
– Venício Lima – professor aposentado da Universidade de Brasília;
– Edson Lanza – Relator Especial para Liberdade de Expressão na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (*);
19 de setembro – sábado
9h – As experiências do Uruguai e Argentina
– Néstor Busso – ex-presidente do Conselho Federal de Comunicação da Argentina;
– Sergio De Cola – ex-diretor do Conselho Nacional de Telecomunicações do Uruguai;
14h – As experiências da Bolívia, Equador e Venezuela
– Osvaldo Leon – coordenador da Agência Latino-americana de Informação (Alai-Equador);
– Tania Valentina Dias – Vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela;
– Amanda Vila – ex-ministra das Comunicações da Bolívia;
17h – As experiências do Chile, México e Cuba
– Camila Vallejo – deputado federal do Chile (*);
– Luis Hernández Navarro – editor do jornal La Jornada (México);
– Iroel Sanchez – blogueiro cubano (*)
20 de setembro – domingo
9h – As experiências dos Estados Unidos e Canadá
– Andres Conteris – Democracy Now (EUA);
– Convidado do Canadá (a confirmar);
11h – Os movimentos sociais e o direito humano à comunicação
– Rosane Bertotti – coordenadora do FNDC e secretaria de comunicação da CUT;
– João Pedro Stedile – coordenação da Via Campesina e do MST;
– Carina Vitral – presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE);
* Os nomes com asterisco ainda não estão confirmados.
Arquivado em:Política Tagged: Barão de Itararé, democratização da mídia
Por que o ajuste fiscal nos empurrou à greve?
13 de Agosto de 2015, 16:10Oitavo texto da parceria entre o Blog do Tarso e a APUFPR, os quais lançaram campanha para discutir o ajuste fiscal e seus impactos na universidade. Ver também: O ajuste fiscal e as universidades, A Desoneração interessa a quem?, O sistema da dívida pública gera riqueza à custa dos direitos sociais do povo brasileiro, Lógica da austeridade, A ideologia do ajuste fiscal coloca a ciência e a sociedade em apuros, O “ajuste fiscal” e a paz de espírito dos tubarões e Universidade shylockiana: cortando na carne do ensino, da pesquisa e da extensão
Por Ricardo Prestes Pazello
O ano de 2015 fez chegar ao ápice um sombrio movimento de nuvens a pairar sobre a realidade brasileira. Se a conjuntura do país se apresenta sombria, não menos cinzenta é a situação da universidade pública brasileira hoje.
Enquanto o governo federal é acossado pela mídia e amplos setores dentre os mais conservadores, retribui a seus algozes com a concessão do programa de governo derrotado nas eleições de 2014. Uma estranha síntese se opera: porque ganhou, cede para não perder.
Não se trata de simples concessão, mas de uma verdadeira inversão do discurso construído em 2014. Se os governos federais petistas se autodenominaram “neodesenvolvimentistas” até então, por conta de suas evidentes alianças com a burguesia interna (como a da indústria e do agronegócio), em 2015 houve um verdadeiro giro neoliberalizante, indisfarçável, que se consolidou no assim chamado “ajuste fiscal”.
É certo que o contingenciamento das finanças públicas seguido dos cortes propriamente ditos nos orçamentos dos ministérios da república não se trata, exatamente, de uma ruptura com relação ao histórico dos últimos doze anos. Mas, sem dúvida, é uma novidade em termos de política de governo, que não se propõe sequer a induzir o crescimento via alianças estratégicas entre estado e burguesia. Muitas explicações são dadas para isso, no amplo leque da política brasileira, desde o fatalismo dos setores mais à direita, até a circunstancialidade dos segmentos governistas. Salpicado com crise econômica internacional (cíclica, aliás) e crise política institucional (e os seus seletivos casos de corrupção alardeados à exaustão pelos grandes meios de comunicação empresariais), o contexto se torna ao mesmo tempo explosivo e asfixiante.
Explosivo porque, paralelamente aos fatos que embotam a conjuntura nacional, assistimos perplexos à emersão de uma desabrida postura conservadora, até então mais ou menos latente em nossa sociedade, mas que agora se materializa em cada vez mais difundidas teologias conservadoras, posições políticas reacionárias, organizações formais de direita, tendo eco até no aparentemente sóbrio espaço das assembléias de professores que se propõem a debater a greve. Na Universidade Federal do Paraná, por exemplo, tivemos acesso a um circo de horrores deste tipo no contexto de nossa assembléia que deliberou sobre a greve docente, em que palavras de baixo calão e gestos obscenos, provenientes de tais setores da direita raivosa, ganharam, impudicamente, as luzes da ribalta.
Por sua vez, também asfixiante, já que a crise política e econômica respondida com ajuste fiscal significou o aumento do abismo que separa a coerência, dos que votaram em uma proposta de governo menos “austera”, da realidade do programa de governo vira-casaca (mesmo que a camisa já tivesse de algum modo pelo avesso). Este descolamento põe em risco a própria e frágil democracia brasileira. A asfixia das continuamente equivocadas respostas dadas pelo governo com base no pacotaço do ajuste fiscal empurra a classe trabalhadora organizada para um movimento de contundente contestação. Mas, ao contrário do que pensam os arautos do adesismo governista, a greve do funcionalismo público federal, por exemplo, ao invés de servir para engrossar o coro dos que querem a instabilidade institucional, presta-se a pressionar o governo para que modifique o curso de suas políticas que se aprofundam na cartilha rezada pelos governantes brasileiros da década de 1990 (que teve no governo do PSDB seu apogeu). Se é verdade que tem limitadas possibilidades de conseguir, por si só, modificar o itinerário de tais políticas neoliberalizantes, por sua vez, põe em xeque todo o estamento político brasileiro e percebe, com cristalina limpidez, que não é trocando o cor-de-rosa pelo azul-tucano que as coisas se modificarão. Ao contrário, só piorarão. Nesse sentido, apenas a classe trabalhadora organizada, em seus movimentos de rua e de paralisação, é que poderá defender a vilipendiada democracia brasileira.
Ocorre, porém, que este entendimento não é de fácil assimilação para parcela dos antigos setores da esquerda (notadamente, a absorvida pela institucionalidade) e nem mesmo para os mais ou menos novos grupos da direita. Não compreendem os primeiros a importância da organização da classe trabalhadora, único fiel da balança, na atual conjuntura; não o entendem os segundos, porque pretendem surfar em uma onda que não foi feita para eles – a da disputa politizadora dos trabalhadores assalariados.
No âmbito dos trabalhadores da educação superior federal, este contexto se desdobra na inanição imposta às universidades brasileiras. Comprovando, uma vez mais, que a constituição da república às vezes não passa de mera carta de amor platônico, entramos em um semestre sombrio em que além de não serem dadas condições mínimas de dignidade salarial e de condições de trabalho (reiterada pauta do último período, por parte dos docentes organizados pelo Andes Sindicato Nacional), sequer o conceito constitucional de universidade pode ser vislumbrado.
Está inscrita na carta máxima – como assim gostam de chamá-la os juristas – a seguinte idéia: “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (art. 207) – mas que autonomia é esta que é sofrivelmente impactada por um contingenciamento orçamentário e um corte financeiro da ordem dos 10 bilhões de reais? Que indissociabilidade é esta entre ensino, pesquisa e extensão quando a pesquisa de pós-graduação só acessa 25% de seus recursos habituais, a pesquisa de graduação se vê desertificada sem a maioria das bolsas que lhe dinamizavam e quando a extensão, já o patinho feio da história, também sofre abalos sísmicos em seu custeio e capital? Isto para não falar na assistência estudantil, nas verbas de transporte, na infra-estrutura e tantas outras sérias necessidades da universidade em contextos de países dependentes. Ou seja, promessa de amor não cumprida e impossível de sê-la com um “ajuste fiscal” deste porte.
Nem autonomia nem indissociabilidade são possíveis com os anunciados cortes na educação universitária brasileira, atingindo PROAP (Programa de Apoio à Pós-Graduação), PROEX (Programa de Excelência Acadêmica), PROEXT (Programa de Extensão Universitária), PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica), dentre outros que compõem a sopa de letrinhas da estrutura de financiamento da universidade brasileira. A universidade, então, fica reduzida a um grande colégio, e os professores, a singelos prestadores de aulas. Mas mesmo aqui o risco se apresenta: o de acabar a luz…
Assim, os professores são jogados ao movimento paredista. Ainda que não conseqüência inexorável, a greve é única capaz, no atual de contexto, de servir de resposta para 1) se opor ao aprofundamento neoliberalizante que o ajuste fiscal do governo federal representa; 2) para defender a democracia brasileira, com o conjunto da classe trabalhadora organizada velando o Brasil contra os arroubos que querem promover a desestabilização da institucionalidade nacional; e 3) mostrar quem é o verdadeiro sujeito que educa esta pátria, deseducada e desajustada. A capacidade dessas respostas serem terminativas vai depender do grau de unidade dos professores em greve nacionalmente e de suas condições de articulação com os demais setores da classe trabalhadora e dos movimentos populares. Eis nossa missão diante da atual e sombria conjuntura – denunciar o ajuste fiscal, sinalizando à sociedade brasileira a necessidade de sua superação. Em face dessa tarefa, para a qual fomos empurrados, não podemos recuar.
Arquivado em:Política Tagged: Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná - APUFPR, UFPR
Verde e amarelo
12 de Agosto de 2015, 4:07Nossa Constituição Social, Desenvolvimentista, Republicana e Democrática de Direito de 1988 prevê que um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é garantir o desenvolvimento nacional (art. 3º, II).
Por isso um dos objetivos do Direito é garantir que a nação brasileira persiga seu desenvolvimento, como por exemplo assegurar o crescimento da indústria nacional, garantir empregos para os trabalhadores brasileiros, aumentar o turismo no país, fomentar a sociedade civil organizada nacional, entre outras políticas públicas.
Segundo a mesma Constituição a bandeira nacional é um dos símbolos da República Federativa do Brasil (art. 13).
Não, as cores do Brasil não são devidas às suas matas, ouro, céu e paz.
O verde entrou na bandeira em 1822 para homenagear a Casa Real Portuguesa de Bragança do Imperador.
O amarelo, no mesmo ano, representou a Casa Imperial Austríaca de Habsburgo da Imperadora.
Em 1889 a esfera azul-celeste com as estrelas mostra os estados brasileiros e a frase positivista “Ordem e Progresso” escrita em verde homenageou os positivistas.
Não é recente na história do país que sua elite financeira se utilize das cores da bandeira brasileira, o verde amarelo, como as cores da manutenção do status quo.
A mesma elite financeira que quando viaja para o exterior fala mal do Brasil; adora usar vestimentas com as cores estadunidenses; envia recursos brasileiros para o exterior em contas em paraísos fiscais e para compras; explora os trabalhadores brasileiros em suas empresas e residências; sonega tributos, o que gera menos dinheiro para ser investido na saúde, educação e segurança públicos; ensina seus filhos a odiar os diferentes; entre outras atuações indefensáveis.
Na década de 1920, Plínio Salgado (que depois fundou o integralismo nazista no país) e outros membros da vertente conservadora do movimento modernista criaram o grupo dos “Verde-Amarelos”. Defendiam o autoritarismo, a colonização portuguesa, o nacionalismo e o predomínio de instituições conservadoras.
Anos depois a mesma elite, por meio da UDN e Carlos Lacerda, indignaram-se contra as reformas populares de Getúlio Vargas e, com o discurso pelo fim da imoralidade, corrupção e crise de confiança no governo, forçaram o suicídio de Vargas em 1954.
Juscelino Kubitschek em 1955 venceu as eleições, em aliança PSD-PTB e com o apoio do Partido Comunista, com 36% dos votos. A UDN de Carlos Lacerda tentou impugnar o resultado das eleições, e depois, com um movimento golpista, tentou impedir a posse de JK, com o apoio da ala conservadora do Exército. A posse ocorreu depois de um levante militar.
Após a renúncia de Jânio Quadros em 1961, a elite brasileira tentou barrar que o vice-presidente eleito João Goulart assumisse a presidência. Jango fazia uma visita diplomática à China e chegaram a empossar o então presidenta da Câmara dos Deputados como presidente.
Leonel Brizola liderou a campanha da legalidade, o Congresso Nacional aprovou o parlamentarismo e Jango assumiu a presidência, com Tancredo Neves (PSD) como primeiro-ministro. Após um plebiscito o presidencialismo voltou em 1963.
Em 1º de abril de 1964 Jango sofre um golpe militar-empresarial, contra as reformas populares, com apoio da elite brasileira.
Durante a ditadura militar foi criado pelo governo do General Emílio Garrastazu Médici o lema ufanista “Brasil, ame-o ou deixe-o”, com as cores da bandeira, contra os brasileiros críticos à ditadura.
O primeiro presidente eleito pós-ditadura, o caçador de marajás eleito com o apoio da elite brasileira contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1989, Fernando Collor de Mello, em momento de crise no governo em 1992, por causa da corrupção, conclamou o povo brasileiro para sair às ruas em apoio ao governo neoliberal com as cores verde e amarelo.
Os estudantes saíram às ruas sim, mas todos de preto, os chamados cara-pintadas, movimento que ajudou a derrubar o governo.
Antes da melhor Copa do Mundo de futebol de todos os tempos em 2014, a mesma elite fez uma campanha tão grande contra o evento (“Imagina na Copa”), que os brasileiros tinham vergonha de usar o verde amarelo até o primeiro apito. Justamente quando mais se justifica a utilização dessas cores. A Copa foi um sucesso, durante o evento os brasileiros voltaram a usar o verde-amarelo, mas poderia ter sido uma Copa ainda maior e com resultados econômicos para o país ainda mais efetivos.
A mesma elite financeira, com apoio dos setores mais atrasados do país, inclusive da velha mídia, com o mesmo discurso anti-trabalhador e, com muita hipocrisia, contra a corrupção, simplesmente não deixou que a presidenta Dilma Rousseff (PT) iniciasse seu segundo governo. Desde o final de 2014, após as eleições perdidas pelo PSDB, vêm boicotando a primeira mulher eleita e depois reeleita no Brasil, com o uso das cores verde e amarela, inclusive com o uso da camisa da CBF, uma das instituições mais corruptas do mundo.
Não vou comentar o nível dos presidentes das duas casas legislativas, eleitos pelos seus pares, que são eleitos graças ao financiamento do mercado financeiro e que, infelizmente, não representam a maioria da sociedade brasileira.
Além de enfraquecer Dilma, com a tentativa de pressionar o Impeachment injustificável da governanta, o alvo agora é o ex-presidente Lula, até então favorito para ser eleito presidente em 2018 pelo Partido dos Trabalhadores.
Estamos no meio desse turbilhão. A crise econômica não é tão grande. O desemprego não é tão alto. A inflação não é tão alta. O dólar não estão tão alto. Mas a mídia nos convenceu que sim.
E infelizmente o governo Dilma não vem ajudando que os movimentos sociais e a ala progressista da sociedade ajude o seu governo, com a implementação de medidas econômicas e sociais recessivas e neoliberais.
Tarso Cabral Violin – advogado e Professor de Direito Administrativo, mestre e doutorando (UFPR), autor do Blog do Tarso
Arquivado em:Política Tagged: Dilma
Fábio Konder Comparato e juristas assinam manifesto em defesa da legalidade
12 de Agosto de 2015, 0:07Manifesto de juristas a favor da legalidade
Em um momento como o que vivemos nos dias atuais, é preciso ter especial atenção com o respeito às instituições, à democracia e, especialmente, ao voto de cada cidadã e cidadão brasileiro. Respeitar o voto é respeitar a soberania popular, fundamento último da democracia brasileira e consagrada no art. 1o da nossa Constituição Federal.
Independente de posição político-partidária ou até mesmo de concordância com as políticas do atual governo, é preciso deixar claro que a tentativa de retirar a Presidente da República de seu cargo sem quaisquer elementos jurídicos para tal é um desrespeito inegável a ordem vigente e a soberania das urnas, contra o qual nos manifestamos frontalmente.
São em momentos críticos como o atual que deve prevalecer o respeito às instituições e é por isso que assinamos esse manifesto a favor da legalidade democrática.
Veja as assinaturas e assine aqui.
Arquivado em:Direito, Política Tagged: Fábio Konder Comparato
As vítimas do HSBC
10 de Agosto de 2015, 0:04Humilhação, controle, assédio moral, terrorismo psicológico e ameaças de demissão não podem ser método de gestão de uma empresa. O movimento “as vítimas do HSBC” é para todos os que são, de alguma forma, vítimas do sistema bancário.
O movimento promete histórias impressionantes contadas por vítimas do HSBC. Uma contribuição destes profissionais para que modelo de opressão e assédio moral seja interrompido.
Você sabia que 62% das pessoas demitidas do HSBC por problemas de saúde eram mulheres? E que elas representam 59% dos empregados que sofreram danos morais pelo banco?
A pesquisa realizada durante dois anos pelo Instituto Defesa Da Classe Trabalhadora mostrou que, além de utilizar métodos de gestão assediosos, o banco tem uma veia machista, com diferenças bem claras no tratamento destinado a homens e a mulheres. Elas também são as que recebem maiores cargas de estresse. Parece gestão de pessoas, mas é humilhação e machismo.
Veja a pesquisa completa em: http://vitimasdohsbc.com.br/
Conheça o movimento e ajude-os compartilhando, comentando, interagindo e influenciando. Curta o Facebook: https://www.facebook.com/vitimasdohsbc
Este é o primeiro de uma série de relatos cedidos ao movimento Vítimas do HSBC por profissionais que concordaram em dividir a angústia e sofrimento que viveram no trabalho, submetidos a um método de gestão que tem deixado milhares de pessoas doentes. Dar voz às histórias é uma forma de tentar mudar esta realidade.Veja o primeiro depoimento:
Arquivado em:Direito, Política Tagged: Declatra
Universidade shylockiana: cortando na carne do ensino, da pesquisa e da extensão
8 de Agosto de 2015, 4:02
Sétimo texto da parceria entre o Blog do Tarso e a APUFPR, que lançaram campanha para discutir o ajuste fiscal e seus impactos na universidade. Ver também: O ajuste fiscal e as universidades, A Desoneração interessa a quem?, O sistema da dívida pública gera riqueza à custa dos direitos sociais do povo brasileiro, Lógica da austeridade, A ideologia do ajuste fiscal coloca a ciência e a sociedade em apuros e O “ajuste fiscal” e a paz de espírito dos tubarões.
Por Raimundo Tostes
O leitor ao ler a expressão cortar na própria carne já considerou alguma vez a sua interpretação literal? Pois bem, Shakespeare considerou esta possibilidade em O Mercador de Veneza. O cenário da peça é Veneza do século XVI. O jovem nobre Bassanio pede um empréstimo ao amigo Antonio. Seu desejo é viajar a Belmont e pedir a mão de sua amada Portia. Sem poder ajudá-lo, Antonio sugere ao jovem procurar o agiota Shylock. Embora relutante, Shylock consente com o empréstimo, sob a condição de que Bassanio empenhe uma libra (pouco mais de 400g) de sua própria carne, no caso de não honrar o saldo do débito. Convido o leitor a ler a peça ou assistir ao espetáculo para ver que os desdobramentos do acordo resultam na impossibilidade de Bassanio honrar o compromisso e, em consequência, pagar o débito com a própria carne.
Assim, esta obra shakesperiana é objeto de estudo de filósofos, sociólogos e, principalmente, juristas quanto ao equilíbrio entre justiça e equidade. Em suma, é preciso considerar que as ações institucionais, ainda que por instrumentos e meios legais, podem extrapolar limites éticos e morais. A visão shylockiana de fazer cumprir a letra da lei cortando a carne do devedor estabelece uma possibilidade de justiça que está longe do que é moralmente aceitável e humanamente factível.
Esta visão shylockiana permeia vários aspectos da vida civil. Em parte, herança de um princípio jurídico expresso na sentença pacta sunt servanda (os pactos devem ser cumpridos). Com efeito, a postura shylockiana permeia o sistema financeiro, as relações comerciais e o próprio papel do Estado. Indo além, o Estado, servindo-se do seu poder discricionário, pode exigir de seus cidadãos o cumprimento dos pactos legais, aos limites da exorbitância moral da lei.
Ao instituir medidas de austeridade – e essas medidas são basicamente econômicas, o Estado estabelece diferentes graus de contribuição e sacrifício de seus cidadãos. Quanto menor for a desigualdade social, tanto menor será a discrepância entre o impacto sobre os estratos sociais. Mas, o inverso social não é verdadeiro. O que significa dizer que as medidas de austeridade impactam fortemente uma sociedade com marcante desigualdade social. Isto se resume ao óbvio: quem paga a conta do ajuste fiscal? Antes de formular sua resposta, observe alguns números. O recém publicado relatório A Classe Média Global é Mais Promessa Que Realidade (julho de 2015), do Instituto norteamericano Pew Research Center, traz dados sobre a renda de 111 países. O relatório aponta que a maioria da população brasileira ainda é pobre (renda de até US$ 2 por dia) ou de baixa renda (US$ 2 a US$ 10). São 50,9% de brasileiros neste estrato, 7,3% de pobres e 43,6% de baixa renda. O percentual de pobres entre nossos vizinhos comparáveis no cone sul é bem menor: Argentina 2,7%, Chile 1,6% e Uruguai 0,2%. A classe média (US$ 10 a US$ 20 por dia) detém apenas 27,8% dos brasileiros, novamente o pior entre os vizinhos: Argentina 32,5%, Chile 33,8% e Uruguai 32,8%. Quanto aos mais endinheirados, o relatório aponta que os brasileiros de renda média alta (US$ 20 a US$ 50) são apenas 15,9% e os efetivamente ricos (mais de US$ 50) são modestos 5,4%. Nossos hermanos completam a goleada: na classe média alta e ricos, respectivamente, os percentuais alcançam 23,5% e 4,3% na Argentina, 23% e 8,2% no Chile e 29,9% e 8,8% no Uruguai.
Portanto, o impacto do ajuste fiscal é efetivamente maior em 78,7% da população brasileira. No contexto em que, neste exato momento, enquanto escrevo este artigo, a taxa Selic alcança 14,15% de juros ao ano com viés de alta, o real despenca frente ao dólar, o desemprego bate os 7% e a renda do trabalhador é corroída pela inflação que pressiona o teto da meta.
E estas dores, angústias e cortes atingem como a universidade pública?
Um relatório apresentado pelo Conselho de Planejamento e Administração da penas na Universidade Federal do Paraná, em junho deste ano, demonstra que o impacto do ajuste fiscal é de 8,3% no custeio da instituição; de 57,56% nos investimentos; e, no total dos recursos de custeio e capital, de 20,52%. Exatamente no momento em que a UFPR está abrindo novos cursos, ampliando vagas, instalando laboratórios e expandindo sua infraestrutura.
Na extensão universitária, o mais significativo programa institucional vigente hoje, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), mantido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) sofreu um contingenciamento de 50% das bolsas por instituição, prejudicando licenciandos, professores supervisores e coordenadores de subprojetos. Os cortes também atingem duramente a pós-graduação das universidades públicas. A CAPES anunciou, no início de julho, mais cortes. Para o Programa de Excelência Acadêmica (PROEX) serão menos 23,3% do orçamento previsto e para o Programa de Apoio à Pós-Graduação (PROAP), menos 8,7%, o que deixa muitos programas de mestrado e doutorado sem – ou quase nenhum – recurso.
É imensurável o custo e o atraso deste sacrifício à rede pública de ensino superior, bem como o quanto isso impacta nossa capacidade científica e tecnológica. Dados de órgãos públicos e privados apontam que os investimentos em infraestrutura necessários ao país para os próximos quinze anos alcança a cifra superior a cinco trilhões de reais. Obviamente, que este prazo e valor mudam ao diminuir a capacidade das universidades públicas – que concentram 95% da pesquisa no país – de investir em pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico. Além disso, as múltiplas carências da sociedade brasileira por profissionais nas mais diversas áreas do conhecimento se agudizam pelo comprometimento na formação da massa crítica requerida.
A visão de Shylock sobre justiça e economia supera sobejamente a dignidade humana. A atual visão governista de uma universidade shylockiana incorre na mesma loucura. A tragédia é que a universidade não é um palco. Os professores não são atores. Não findam no esquecimento, sem olhos, sem memória, sem mais nada.
Raimundo Tostes é professor adjunto do campus avançado da UFPR de Jandaia do Sul
Arquivado em:Política Tagged: Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná - APUFPR, UFPR
Veja o vídeo do evento “A mídia e a cultura do silêncio”
4 de Agosto de 2015, 11:57
Arquivado em:Política Tagged: Barão de Itararé, democratização da mídia
Senado aprova projeto que altera ECA
3 de Agosto de 2015, 11:56SENADO APROVA PROJETO QUE ALTERA ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)
Por Débora Cristina Veneral
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou, no dia 13 de julho de 2015, 25 anos. Considerando seu tempo de existência, é normal que a sociedade questione sua real aplicabilidade e eficácia em relação aos atos praticados pelos jovens infratores. Coincidência ou não, o plenário do Senado Federal aprovou na noite da última terça-feira, dia 14 de julho de 2015, o substitutivo do projeto de lei 333/2015, de autoria do senador José Serra (projeto de lei com a finalidade de alterar as penas aplicadas a crimes graves que envolvem violência ou grave ameaça, tais como homicídio e roubo qualificado). Diz-se, por exemplo, que o roubo é qualificado se daquela ação resultou para a vítima lesão corporal de natureza grave. E considera-se grave a lesão que causa à pessoa incapacidade para as ocupações habituais, perigo de vida, debilidade de membro, sentido ou função ou aceleração de parto.
Uma das justificativas para a proposição do projeto, além do ajuste da lei à atual realidade criminal, foi sem dúvidas a crescente participação dos menores de dezoito anos em crimes graves como roubo, homicídio, e também latrocínio, que é uma espécie de roubo, porém, qualificado pelo resultado morte. Ou seja, aqueles casos em que no popular linguajar “rouba e depois mata” ou “mata pra roubar”. Para esses casos, o código penal brasileiro fixa para os adultos uma pena de 20 a 30 anos. Isso não ocorre atualmente, quando o crime é praticado por menor de 18 anos de idade, que é submetido ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e tem contra si aplicada uma medida de internação que se constitui na privação de sua liberdade, ou seja, na sua internação, em entidade exclusiva para adolescentes, que não pode exceder três anos, conforme previsto no artigo 121 do Estatuto.
Assim, com base na crescente participação dos menores de 18 anos, na sua maioria, aliciados por adultos para a prática de crimes, especialmente o latrocínio, os defensores do projeto de lei sugerem a criação de instrumentos, que entendem serem mais eficazes para combater a participação de adolescentes na prática de atos infracionais, que causam repulsa à sociedade brasileira. Com isso, as propostas são para o endurecimento das penas, principalmente, naqueles casos em que adultos aliciam menores para a prática de crimes. O projeto traz, também, a alteração do crime para hediondo e o aumento da medida de internação de três para dez anos em ala separada dos demais, aumentando também a pena dos adultos que utilizam menores para a prática de crimes. Apesar das inúmeras divergências entre os próprios senadores, pois há aqueles que entendem que o jovem não irá se ressocializar ou reeducar passando dez anos privado da liberdade e do convívio em sociedade no período de sua formação, o projeto foi aprovado por 43 votos a favor e 13 contrários, seguindo agora para a Câmara dos Deputados.
O fato é que nem a PEC 171/1993, que trata da alteração do código penal para a redução da maioridade, e nem o projeto de lei 333/2015, aprovado pelo Senado, trazem soluções às questões relacionadas à violência que envolvem os jovens infratores e os adultos corruptores. É preciso rever de modo integral tanto o sistema penitenciário quanto as medidas aplicáveis aos menores, pois de um lado as unidades prisionais brasileiras fabricam cada vez mais criminosos; de outro, adolescentes são submetidos ao regime de internação, cujo prazo se pretende aumentar mais ainda sem de fato pensar, planejar e implementar políticas educacionais e profissionalizantes que transformem a vida desse jovem.
Débora Cristina Veneral é diretora da Escola Superior de Gestão Pública, Política e Jurídica da Uninter.
Arquivado em:Política Tagged: Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA
O “ajuste fiscal” e a paz de espírito dos tubarões
3 de Agosto de 2015, 11:56Sexto texto da parceria entre o Blog do Tarso e a APUFPR, que lançaram campanha para discutir o ajuste fiscal e seus impactos na universidade. Ver também: O ajuste fiscal e as universidades, A Desoneração interessa a quem?, O sistema da dívida pública gera riqueza à custa dos direitos sociais do povo brasileiro, Lógica da austeridade e A ideologia do ajuste fiscal coloca a ciência e a sociedade em apuros.
Por Claus Germer
‘Como os dados sobre o valor do ajuste fiscal e suas possibilidades já são conhecidos de todos, vou ater-me ao sentido desta política. Ela é apresentada, pelos seus defensores e até por alguns críticos, como uma necessidade para ‘equilibrar o orçamento’ e viabilizar o retorno do crescimento econômico. O objetivo declarado do ajuste fiscal é ‘preparar a economia para a retomada do crescimento’, mas a eficácia do ajuste fiscal neste sentido é duvidosa e sujeita a interminável polêmica entre economistas, de modo que não pode ser levada a sério. Apesar disto, todos os governos capitalistas, de todos os quadrantes ideológicos, diante de uma crise aplicam a mesma política. Por que?
O motivo real é que é necessário transmitir aos ‘agentes’ (que na linguagem cifrada da economia oficial significa capitalistas ou empresários) um sinal de que o governo é confiável e garante a estabilidade, a fim de ‘estimulá-los’ a investir. Esta lógica é a desgraça dos governos social-democratas, isto é, dos governos que prometem aos trabalhadores instituir a igualdade e a felicidade geral sob o capitalismo. Desde os primeiros governos deste tipo, instalados após a I Guerra Mundial na Europa, a história proporcionou uma lição que foi, infelizmente, ignorada no Brasil: tais governos são uma armadilha que liquida politicamente tais partidos como portadores de mudanças superadoras do capitalismo. A razão disto reside no fato de que a sua sustentação eleitoral, constituída pela classe trabalhadora, só se mantém caso consiga garantir a manutenção e expansão dos empregos e salários, além dos demais direitos, o que exige que a economia se mantenha em crescimento. Mas só pode ser feito por quem detém a condição básica para oferecer emprego e salário, que é possuir meios de produção e circulação, isto é, fábricas, fazendas, minas, meios de transporte, supermercados, escolas, hospitais, etc. Quem os possui, porém, em sociedades capitalistas, é a classe capitalista ou empresarial, não os governos. Quando os governos são diretamente exercidos por representantes desta – que é a situação mais geral –, os interesses de ambos coincidem e tudo se faz ‘naturalmente’. Mas quando são exercidos por representantes, mesmo que ‘moderados’, da classe trabalhadora, estes podem ser chantageados pela recusa do empresariado em dar continuidade aos investimentos.
Os partidos social-democratas geralmente chegam ao governo quando a economia encontra-se em crise relativamente profunda e prolongada, e lá chegam com base em plataformas críticas do capitalismo e dos capitalistas, prometendo o fim da exploração e a ampliação de direitos de todo tipo. Mas, chegados ao ‘poder’ (entre aspas porque ascender ao governo não é tomar o poder, pois o poder real consiste na posse dos meios de produção e circulação, pelo menos dos fundamentais, que nos países capitalistas encontram-se nas mãos de uma parte minoritária da sociedade, que é a classe capitalista, que por esta razão domina economica e politicamente toda a sociedade), portanto, chegados ao poder defrontam-se com o fato de que a economia só pode recuperar-se caso os capitalistas se decidam a manter e ampliar seus investimentos, e só o fazem com a garantia da ‘segurança’ da sua propriedade e dos lucros pretendidos. Assim, os governos social-democratas são obrigados a engolir as promessas eleitorais e sujeitar-se à chantagem da classe que detém o poder real, e iniciam os mais diversos tipos de programas de ‘ajuste’, reclamados pela classe empresarial, que são o oposto exato das promessas que lhes deram efêmeras maiorias eleitorais. Ao aplicar tais programas, que reduzem empregos e salários, a fim de ganhar a ‘confiança’ do empresariado, tais governos perdem a confiança da classe que pretendem representar, a classe trabalhadora, e a sua sustentação eleitoral. É o que está ocorrendo no Brasil hoje. Outro exemplo prático, e mais dramático, ao vivo e em cores, pode ser observado também nestes dias na Grécia. Todos os programas de ajuste consistem basicamente em variantes, mais ou menos radicais, da política de ‘ajuste fiscal’ que estamos sofrendo no Brasil neste momento, cuja essência é jogar sobre as costas dos assalariados o custo exigido pela classe capitalista para, supostamente, dignar-se a investir.
Esta é a razão básica que justifica a tese de que a classe trabalhadora – que é a maioria da população dos países capitalistas, 75% ou mais – só poderá ser livre e a sociedade só será democrática quando os meios de produção e de circulação passarem às mãos de toda a população, portanto sob propriedade social e economia planejada, deixando de ser instrumento de chantagem que submete a sociedade aos mais bárbaros processos de exploração e opressão.
Por que se pode dizer, como no início deste artigo, que a eficácia do ‘ajuste fiscal’ é incerta? A principal razão é que o desajuste fiscal não é a causa da crise econômica, mas, ao contrário, é a crise que causa o desajuste. Consequentemente, se o desajuste é consequência da crise, segue-se que o ajuste só pode ser obtido eliminando-se a causa da crise, e esta é complexa e situa-se nas próprias entranhas da economia capitalista e não pode ser eliminada por políticas econômicas. Se isto fosse possível as crises já não existiriam. Isto pode parecer inconvincente, mas é facilmente explicável: a economia capitalista não é uma economia planejada, de modo que sua trajetória não é controlável, uma vez que, dada a propriedade privada dos meios de produção e de circulação, sua trajetória é determinada pelo entrechoque caótico de uma infinidade de agentes independentes. A natureza deste entrechoque contém os elementos que tornam as crises inevitáveis. Como todo sistema, a economia capitalista possui uma lógica expressa em leis de movimento sistêmicas, que produzem tanto as crises quanto a superação das crises, independentemente de ‘políticas’ econômicas. Observe-se, por exemplo, que a economia mundial está em crise desde 2008, há sete anos portanto, e, apesar de todo o aparato informatizado e a genialidade de bem pagos consultores de todo tipo, ainda não foi debelada. Por isto pode-se dizer que as crises econômicas só deixarão de existir quando o capitalismo deixar de existir. Aos que duvidarem, basta dizer que crises financeiras existem desde 1620 e crises industriais desde 1825, e tudo que se fez para tentar evitá-las não funcionou, como se pode constatar facilmente pela repetição, até hoje, destas mesmas crises, além de novos tipos de crises que se acrescentaram às anteriores.
O objetivo real do ajuste é atender às exigências da classe empresarial, que chantageia os governos e a sociedade porque mantém em seu poder, como reféns, os meios de produção e de circulação, que só liberam – ou seja, só investem – caso as suas exigências sejam atendidas. E a exigência central é assegurar a segurança e a rentabilidade dos seus capitais. Toda a sociedade deve sujeitar-se a todo tipo de sacrifícios em nome desta exigência. A dívida pública compõe-se essencialmente de aplicações da classe empresarial, remuneradas pela receita pública. Enquanto os investimentos nas atividades econômicas usuais não podem ser manipulados à vontade para voltar a dar lucros, porque estão sujeitos às leis impessoais e incontroláveis da economia em crise, a dívida pública, sujeita aos governos e de certo modo fora dos circuitos econômicos convencionais, pode ser manipulada até certo ponto. Os rendimentos da dívida pública, para serem pagos, requerem que os governos possuam fundos adequados, e é a isto que o ‘ajuste fiscal’ se presta: garantir a capacidade de pagamento da dívida pelo Estado, e a disposição deste de fazê-lo a todo custo. A existência de um ‘superávit primário’ é sinal de que o governo se sujeitou à exigência empresarial e as despesas estão sendo comprimidas abaixo das receitas, em detrimento das necessidades do restante da população, de modo que há uma sobra para a remuneração dos credores, o que os ‘tranquiliza’, embora intranquilize dramaticamente o restante da população. Paradoxalmente, as crises econômicas favorecem os parasitas do orçamento público, pois a queda da arrecadação, decorrente da crise, obriga os governos a aumentar a tomada de empréstimos, mas, devido ao aumento do risco, os aplicadores exigem maiores taxas de juros, o que melhora a situação dos credores mas piora a situação fiscal.
A tranquilidade de espírito dos credores, garantida pela gestão ‘responsável’ (isto é, a favor dos seus bolsos) do orçamento público, não assegura que decidam liberar os seus meios de produção e circulação (isto é, investir), para que a economia volte a crescer, uma vez que a remuneração destes investimentos não depende dos governos, mas do estado da economia. A própria crise da economia é sinal de que deixaram de investir, que é o que causou a paralisação da economia e a consequente queda da arrecadação e o desajuste fiscal. O ajuste fiscal real só virá com o ajuste da economia, que depende da superação da crise, mas o ajuste da remuneração dos credores do Estado deve ser imediato. O governo ‘dos trabalhadores’ ganha a confiança dos parasitas da dívida pública mas perde a confiança dos seus eleitores. É um dilema insolúvel dos governos ditos ‘social-democratas’ diante das crises econômicas.
O ‘ajuste fiscal’ consiste, em síntese, em transferir rendimentos dos bolsos dos trabalhadores para os bolsos dos credores da dívida pública. No caso do Brasil, hoje, cortaram-se, em primeiro lugar, gastos referentes a direitos dos trabalhadores do setor privado: seguro-desemprego, assistência médica, abono, etc, em valor estimado de cerca de R$ 70 bilhões. Está em curso, em meio a reações e greves, o processo de imposição de cortes salariais dos trabalhadores do setor público. O exemplo das IFEs é ilustrativo e permite quantificar o processo de transferência: o reajuste obtido pelos docentes, em março, referente a 2014, foi em média de 5%, enquanto a inflação de 2014 foi superior a 8%. No reajuste escalonado em 4 anos, que está sendo proposto pelo governo, o reajuste do início do próximo ano, referente a 2015, é de cerca de 5%, enquanto a inflação prevista para o presente ano, no momento, aproxima-se dos 9%. O cenário dos anos seguintes ainda é incerto, mas dificilmente será melhor para os assalariados, pois a inflação quase certamente será superior aos 4% de reajuste propostos pelo governo. Isto sem contar as categorias que estão com salários defasados por diversos anos. Não dispomos do valor preciso da folha salarial anual dos docentes das IFEs, mas, supondo que seja de R$ 20 bi em 2015, segundo estimativa citada recentemente, que já incorpora a correção referente a 2014[1], e acrescentando a correção proposta referente a 2015, a folha salarial de 2016 seria de R$ 21 bi, quando deveria ser de R$ 22,1 bilhões[2], de modo que o governo federal já teria transferido, dos bolsos dos docentes para os bolsos dos detentores da dívida pública, para a ‘tranquilidade’ destes, nada menos que R$ 1,4 bilhões em dois anos. Esta é a lógica do ‘ajuste fiscal’. Percebe-se que a ‘tranquilidade’ dos parasitas da dívida pública custa caro, não só em dinheiro, mas em intranquilidade para o restante da população e, no nosso caso, dos docentes e técnico-administrativos das IFEs. Isto sem contar com os drásticos cortes anunciados em bolsas, financiamento e material de pesquisa, investimentos em infraestrutura, etc.
[1] Como a folha salarial de R$ 20 bilhões em 2015 incorpora a correção salarial de 5%, em comparação com a inflação de 6,5% em 2014, deduz-se que a folha salarial de 2014 foi de aproximadamente R$ 19,05 bilhões e a de 2015 deveria ser de R$ 20,3 bilhões, em vez de R$ 20 bilhões, resultando em uma ‘economia’ de R$ 0,3 bilhões em 2015.
[2] A correção de 9% (estimativa conservadora da inflação de 2015) sobre a folha salarial de 2015, que deveria ser de R$ 20,3 bilhões, resulta em R$ 22,1 bilhões em 2016 e uma ‘economia’ de R$ 1,1 bilhões em relação à folha de 2016 resultante do reajuste de cerca de 5% proposto pelo governo para 2016. Somada aos R$ 0,3 bilhões de 2015, a ‘economia’ total nos dois anos seria de R$ 1,4 bilhões.
Arquivado em:Política Tagged: Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná - APUFPR, UFPR
Justiça anula demissão abusiva e manda reintegrar motorista vítima de perseguição política
3 de Agosto de 2015, 11:56Demissão se deu em retaliação a um abaixo-assinado liderado pelo trabalhador. Ele vai receber R$ 10 mil por danos morais e empresa é obrigada a dar publicidade à decisão da Justiça do Trabalho.
A juíza Ziula Cristina da Silveira Sbroglio, da 4ª Vara do Trabalho de Londrina, deu ganho de causa esta semana ao motorista Nilson Zago Sant Anna e ao Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Londrina (Sinttrol) e mandou a empresa Londrina Sul Transportes Coletivos Ltda reintegrar o trabalhador que foi demitido abusivamente em função de perseguição política.
Sant Anna liderou no início do ano, logo após a negociação salarial da data-base, a elaboração e coleta de assinaturas entre os colegas de trabalho, para solicitar do sindicato da categoria uma nova etapa de negociações com a empresa. Nessa nova etapa, eles reivindicavam a definição de critérios claros para a promoção de motoristas de micro-ônibus em motoristas de ônibus convencional. Essa promoção representa, hoje, um incremento de cerca de 35% na remuneração dos motoristas.
A adesão foi de 72%. Dos 110 motoristas de micro-ônibus da empresa em Londrina, 79 aderiram ao abaixo-assinado. “A atitude do trabalhador foi legítima, condizente com a liberdade de expressão e com defesa dos interesses dos colegas, que reivindicam apenas a perspectiva de crescimento profissional”, argumenta o advogado André Silva, do Escritório Passos & Lunard em Londrina, que presta assessoramento jurídico ao Sinttrol.
O Sinttrol retomou as negociações com a Londrina Sul para tratar da reivindicação dos motoristas de micro-ônibus. Um dia depois de receber o abaixo-assinado, a empresa demitiu Sant Anna. O Sinttrol suspendeu a negociação coletiva até a reintegração do trabalhador.
Punição pedagógica e exemplar
Além de mandar reintegrar o motorista nas mesmas funções e à escala de trabalho que tinha antes de ser demitido abusivamente, a Justiça do Trabalho de Londrina determinou o ressarcimento integral de todo o período de afastamento do empregado, observadas as evoluções salariais e encargos havidos, e o pagamento a ele de R$ 10 mil em indenização por danos morais. A multa diária por descumprimento da reintegração foi determinada em R$ 100, revertida para o trabalhador.
A juíza considerou também eficaz para a reparação do dano moral imputar à empresa a pena de dar publicidade à decisão judicial, tendo de comprovar à Justiça do Trabalho que deu ciência a todos os empregados da empresa sobre o teor da sentença, sob pena de se descumprir ter de desembolsar mais R$ 10 mil em multa paga a entidades beneficentes conveniadas ao Tribunal.
“Sendo assim, entendo inválida a dispensa de função do reclamante porque foi retaliativa, discriminatória”, diz a sentença da juíza. “Defiro o pedido de reintegração do reclamante à função e escala de trabalho idênticas, e o ressarcimento integral de todo o período de afastamento, observada a evolução salarial que teria direito e os reflexos em 13º, férias + 1/3 e FGTS (8% – este depositado em conta vinculada)”, completa.
Confira a íntegra da sentença: http://defesadetrabalhadores.com.br/administrator/index.php?option=com_docman§ion=documents&task=download&bid=9
Arquivado em:Direito, Política Tagged: Direito do Trabalho